Argélia,  Viagens Longas

Roadtrip de duas semanas na Argélia (+ extensão deserto)

A Argélia não costuma figurar nas listas de melhores países para uma viagem de carro de sonho. Provavelmente, porque mais ninguém olha para aquele país gigante e pensa “giro, giro era fazermos 4000+ quilómetros em duas semanas”. Mas foi isso mesmo que pensei e apesar dos longos dias na estrada, acho que não há melhor forma de viajar pela Argélia! 

Durante a viagem passámos por cidades lindas, maravilhas da natureza, desertos sem fim, ruínas romanas e ainda tivemos tempo para um mergulho furtivo no mediterrâneo. Claro que o melhor de tudo foram as pessoas que conhecemos e a sua hospitalidade. Fomos recebidos de braços abertos, com mesas a transbordar de comida deliciosa, alguns olhares curiosos e sorrisos de orelha a orelha. 

Esta é a Argélia que surpreende todos os seus visitantes: 

Dia 1: Argel

Argel é uma das cidades mais bonitas que já visitei. Paris caiada à beira-mar! Desde as ruas estreitas e encruzilhadas do Casbah às grandes avenidas francesas, aqui misturam-se arquitecturas, culturas e histórias. 


Podes encontrar o meu post sobre Argel aqui


Dia 2: Djemila

No segundo dia saímos de Argel e seguimos para Constantine, mas tínhamos uma paragem importante a fazer pelo caminho: Djemila, as melhores ruínas romanas que vimos durante toda a viagem. Aconselho-te a sair cedo de Argel para teres tempo de fazer tudo com calma, já que provavelmente vais poder ter Djemila o seu museu só para ti (ou quase!)


Tempo de condução: 5.5 horas até Constantine, passando por Djemila

Podes encontrar o meu post sobre Djemila aqui


Dia 3: Constantine

A cidade das pontes é linda de todos os ângulos. Vais encontrar palácios reais, pontes que abanam por todos os lados (é suposto) e até cascatas secretas dignas de um filme do Avatar. 


Podes encontrar o meu post sobre Constantine aqui

Tempo de condução: 2.5 horas de Constantine a Batna 


Dia 4: Timgad & Ghoufi 

Estava na altura de rumar ao deserto! Começámos numa zona verdejante, onde há ruínas romanas com fartura (incluindo o grande complexo de Timgad) e acabámos num desfiladeiro onde as únicas árvores que sobrevivem são as palmeiras. 

Esta região também marca o lugar onde se travou a primeira batalha da revolução contra a colonização francesa. 

Podes encontrar o meu post sobre Timgad e Ghoufi aqui

Tempo de condução: Cerca de 4 horas de Batna a Biskra passando por Timgad e Ghoufi 


Dia 5 e 6: Ghardaia e o Vale do M’zabe

Nestes dias, viajámos não só no espaço, mas também no tempo. É no Vale do M’zabe que se encontram cinco aldeias cujo modo de vida dos seus habitantes e as suas práticas culturais se preservam quase intactas, ignorando muitos progressos sociais, tecnológicos e judiciais. Um lugar para absorver, reflectir e aprender. 


Nota de estrada: De Biskra para Ghardaia o Google dá duas opções de caminho. Um deles é bastante mais curto, mas é um desvio, por uma “estrada” com muitas pedras que demora muito tempo a fazer – especialmente se tiveres um carro normalíssimo como nós e não um jipe. 

A coisa boa é que a estrada é deserta e não tem checkpoints da polícia, por outro lado são umas duas horas de solavancos. Fica o aviso! 

Podes encontrar o meu post sobre o Vale do M’zabe aqui

Tempo de condução: 7.5 horas de Biskra a Ghardaia


Dia 7 e 8: Timimoun 

Chegámos ao deserto “a sério” onde os pontos de distração na estrada não passam de dunas e camelos. Timimoun, a cidade vermelha, tem uma arquitectura única e muitos mercados onde se cruzam várias culturas e etnias subsarianas. 


Aconselho explorar o centro de Timimoun durante algumas horas, idealmente com alguém local e tirar um dia para ir com um guia, de jipe, ver o que os arredores têm para oferecer. 

Podes encontrar o meu post sobre Timimoun aqui. 

Tempo de condução: 7.5 horas de Ghardaia a Timimoun. 

Dica: Para este tipo de dias longos de condução no deserto, recomendo levar comida, água e um tanque cheio de gasolina. As estradas têm muito pouca gente, por isso as pausas para casa de banho são onde quiseres! 


Dia 9 e 10: Taghit 

Mais uma longa viagem por milhões de grãos de areia. Antes de chegarmos a Taghit, passámos por Beni Abbès e a sua duna gigante. Em Taghit encontrámos a paz do deserto, descobrimos que é possível andar de kayak num oásis e passeámos por pedregulhos com desenhos rupestres milenares. 

Aqui, seguimos os guias do alojamento local num tour que combinava um pouco de tudo. Se quiseres fazer por ti, podes encontrar o meu post sobre Taghit aqui. 

Tempo de condução: 5.5 horas de Timimoun a Taghit passando por Beni Abbès 



Dia 11: El Gour 

Este dia foi tão cheio de aleatoriedades que é difícil de descrever. Entre cavernas subterrâneas, pôres-do-sol esquivos e esquadras da polícia em pijama, esta foi a aventura mais épica da nossa roadtrip. 


Podes encontrar todos os pormenores sobre El Gour aqui. 

Tempo de condução: 5.5 horas de Taghit a El Gour 


Dia 12 e 13: Oran 

Depois de mais de uma semana no deserto demos à costa! Chegámos a Oran já quase ao fim do dia e assim que vimos o mar pedimos aos nossos amigos para irmos dar um mergulho. 

Digamos que mulheres de biquini não é exactamente ilegal, mas também está longe de ser comum. Já quase em Novembro, as praias estavam vazias e lá fomos nós, para deleite e surpresa de uns rapazes mirones que nunca devem ter visto tal coisa. 

Nessa noite, como já era hábito, fomos convidados para jantar na casa de um amigo do nosso amigo onde nos esperava um banquete feito pela mãe dele, que nunca chegámos a conhecer. 


Oran, mesmo assim, é a cidade mais liberal da Argélia. No dia seguinte vimos a sua influência espanhola, o centro histórico e até descobrimos uma pastelaria francesa toda chique onde decidimos gastar mais num éclair do que a média de todas as refeições diárias – afinal, tínhamos dinheiro a mais já que toda a gente nos alimentava! 

Na última noite, conhecemos a “nata” da sociedade Argelina através do Couchsurfing. No topo de um hotel – onde o álcool era permitido – conversámos com um grupo de amigos, todos fluentes em inglês e francês, com estudos no estrangeiro. As raparigas expressavam-se com uma liberdade que ainda não tinha visto. 

O que me surpreende na Argélia é a pacificidade com que culturas tão diferentes co-existem. Todas as pessoas mais jovens, principalmente mulheres, que anseiam por mais liberdade têm, ao mesmo tempo, um imenso respeito e até orgulho pelo lado mais tradicional do seu país. 

Tempo de condução: 6 horas de El Gour a Oran com uma paragem em Sidi Bel Abbès.


Dia 14: Tipaza 

O último dia de estrada. Saímos cedo de Oran porque queríamos ir pela estrada junto ao mar em vez de pela auto-estrada. Asneira. Achava eu que ia ver lindas paisagens costeiras com praias idílicas, mas não foi o caso. A estrada costeira passa por mil e uma aldeias, é MUITO lenta e tem pouco interesse. Fica a dica. 

A única coisa boa foi termos dado com o Aqueduto “Maurétanien de Cherchell”, mas já é tão perto de Tipaza, que podes ir pela auto-estrada à mesma e fazer só um pequeno desvio para trás. 


Por fim, Tipaza, o nosso último ponto antes de voltarmos a Argel. Aqui ficam as ruínas Romanas à beira-mar. Talvez não sejam tão impressionantes como Djemila ou Timgad, mas a sua localização geográfica torna a experiência de as visitar muito mais agradável. 

Recomendaram-nos o restaurante “Le Dauphin” que não desapontou! Comemos que nem uns reis com direito a camarão grelhado e calamares fresquinhos. 

Por fim, seguimos para Argel, onde celebrámos os 4,200km feitos em duas semanas. Mas a noite ainda mal tinha começado! O nosso host, o Mok, que já nos tinha acolhido nas primeiras noites, levou-me a conhecer a noite de Argel onde os restaurantes se transformam em bares e os vinhos argelinos fazem furor. 

Uma coisa que adoro em países muçulmanos é a vivacidade com que os homens dançam! Não podia ter pedido melhor maneira de fechar esta viagem. 

Tempo de condução: 6 horas de Oran a Argel passando por Tipaza


Dia 15: De volta a Argel 

O último dia foi um pouco mais lento. Meia ressacada ainda fui mostrar ao meu companheiro de viagem, o centro de Argel, que ele não tinha tido a oportunidade de ver. Se tiveres tempo, aconselho um saltinho à Flaxen Beach, não por ser particularmente bonita, mas porque sabe sempre bem pôr os pés na areia e ver casais a namorar sorrateiramente. 

Assim termina uma viagem de carro épica que talvez um dia figure nas famosas compilações de blogues e sites de viagens! 

Como a Argélia é um país absolutamente gigante, segue a sugestão de uma semana de viagem extra, desta vez no deserto profundo.


Semana Extra: Sahara Profundo 

Gostei tanto da Argélia que em menos de dois anos estava de volta, desta vez para descobrir os segredos do Sahara. De Argel voámos para Djanet, onde ficámos quatro noites e de Djanet para Tamanrasset onde ficámos mais quatro noites. 

Aqui, estamos em casa dos Tuareg, as gentes do deserto. A sua terra não tem princípio nem fim. As rochas, a areia, o vazio, estendem-se por uma área para além da compreensão. 


Os dias são passados a descobrir paisagens indescritíveis, muitas delas com mais história que todos os museus europeus juntos. Uma viagem a um mundo que não sabias que existe! 

Por fim, se gostas de caminhar, há a possibilidade de fazer uma expedição a Sefar, a maior colecção de pinturas rupestres do mundo. São seis/sete dias a caminhar e a acampar. 

Fomos com esta agência e recomendo: Matrath Voyage


Dicas e Informações Úteis

Visto: O visto é o maior entrave a viajar para a Argélia. Se fores só para o sul tens que ir com uma agência e eles tratam de tudo. Super fácil, nem tens que pôr os pés na embaixada. 

Se viajares de forma independente é mais chato. Só podes fazer o visto no país da tua nacionalidade ou residência, tens que imprimir e preencher vários papéis, ir entregar à embaixada juntamente com o passaporte e duas semanas depois tens que o ir buscar. Custa cerca de 90 euros. Como tal, é boa ideia fazer uma viagem relativamente longa para justificar o custo. 

Aluguer de carro: O aluguer de carro foi uma batalha. Se és mulher, não contactes agências com o teu nome! Recebi zero respostas! O Pina lá conseguiu propostas e acabámos por escolher a Free Car – um nome original! Apesar de terem um representante de vendas que ignorava o que eu dizia quando o meu francês era melhor que o do Pina (provavelmente é o mesmo que não responde a emails de mulheres), prestaram-nos um óptimo serviço e um HYUNDAI i20 que sobreviveu à viagem toda!

Pagámos 500€ por 15 dias de aluguer, um preço bastante bom quando comparado com a maioria das pessoas que conhecemos. É boa ideia tentar marcar carro com alguma antecedência. Não há muitas agências e se te calha viajar numa altura em que está a acontecer um grande evento na cidade pode ser difícil arranjar carro.

Custo da gasolina: O custo da gasolina é muito baixo na Argélia, o que dá muito jeito quando se faz 4000+ quilómetros. Da primeira vez que visitei eram cerca de 14 cêntimos por litro. Creio que agora são cerca de 30 cêntimos. 

Chegar ao aeroporto: A melhor forma de viajar do aeroporto para o centro da cidade é de táxi. Os preços rondam os 3-5€ no máximo. O comboio custa 80 cêntimos, mas nunca se sabe bem quanto tempo vai demorar. Nós experimentamos uma vez e arrependemos-nos.

Cartão SIM: Definitivamente um bem essencial para quem quer viajar de forma independente. A cobertura de rede é melhor do que pensava, em todas as cidades e vilarejos há internet. Os Argelinos ligam para toda a gente a toda a hora, por isso ter um número local também dá imenso jeito. Comprámos da Djeezy no aeroporto: 50 GB por 16€. Outra alternativa é comprar um eSIM, mas verifica que o teu telemóvel é compatível com eSIMs.

Controlo de Passaporte: Ao chegar ao controlo de passaporte tens que preencher um formulário que inclui a morada do lugar onde vais ficar. Por isso, se tiveres um host, certifica-te que tens a morada dele e provavelmente será melhor dizeres que é teu amigo. O Couchsurfing nao é ilegal como no Irão, mas os hosts tem que registar as pessoas que ficam com eles, o que é uma chatice. Também podes mostrar o email de confirmação de um hotel como comprovativo de estadia – eu marquei um hotel com cancelamento gratuito para fazer o visto.

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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