Jordânia

Mar Morto e Wadi AlMujib: da calmaria da água salgada à rebaldaria da água doce

O dia em que visitámos o Mar Morto foi tão cheio de aventuras e peripécias que o Mar Morto em si até parece insignificante. Tudo começou em Madaba, uma cidade a sul de Amã onde nos encontrámos com a Apo, uma amiga francesa que já nos tinha acompanhado no Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão. O nosso grupo estava oficialmente completo.

Vamos brincar aos mosaicos?

Madaba não foi só uma paragem conveniente no caminho entre Amã e o Mar Morto, é a cidade dos mosaicos! Em cada esquina de Madaba encontra-se uma igreja importante ou um centro arqueológico digno de ser visitado. Como em toda a Jordânia (ou em todo o Médio Oriente), ali fez-se História.

Não há nenhum lugar que represente tão bem a relevância histórica de Madaba como o mapa de mosaicos na igreja de São Jorge (St. George’s Church). Esta humilde igreja Grega-Ortodoxa não parece guardar tesouro nenhum, mesmo depois de passarmos a porta de entrada.


Só quando nos começámos a aproximar do pequeno agregado de turistas a um canto, todos a olhar para baixo, é que vimos O mapa. Ali, perto dos nossos pés, está o mapa com a mais antiga representação da Palestina. Feito de mosaicos (claro) este mapa do século VI, marca importantes lugares bíblicos do Médio Oriente. Nós visitámos a igreja a um domingo e tivemos de esperar até que a missa acabasse para ir lá dentro. É um dos poucos lugares não incluídos no Jordan Pass.

Antes da igreja de São Jorge já tínhamos visitado os Parques Arqueológico de Madaba 1 e 2, onde podes encontrar… Mosaicos! Como estes parques estão incluídos no Jordan Pass não custa nada dar um saltinho e ver estas obras primas:


Por fim, fica a sugestão de mais uma igreja. Quem diria que uma viagem à Jordânia nos levaria a tantas igrejas?! De seu nome St. John the Baptist Roman Catholic Church, esta igreja é interessante tanto por cima como por baixo. Por baixo, está um complexo arqueológico com ruínas romanas e um poço de 3000 anos ainda operacional. Por cima, uma torre onde podes subir para ver as vistas.

Quase não subimos por causa da missa, mas os senhores da recepção acharam que nós vermos Madaba de cima era mais importante do que a paz de espírito dos devotos e levaram-nos pela missa adentro até chegarmos à porta ruidosa de acesso às torres dos sinos.


Uma vez lá em cima, conseguimos ver toda a extensão de Madaba e no caminho de volta ainda demos de caras (literalmente) com algumas frases filosóficas escritas nas paredes. Madaba acabou por ser uma óptima maneira de começar o dia, e se achas que já fizemos muita coisa, não te enganes. Nem onze da manhã eram!

As moscas do Mar Morto

Ainda em Madaba, passámos por uma padaria para nos abastecermos, porque a partir dali não fazíamos ideia de quando encontraríamos outro sítio para comer.

Arrancámos em direção ao Monte Nebo, onde reza a história que o Maomé avistou a Terra Prometida pela primeira vez. Há um lugar onde podes parar o carro e ver a vista, que me parece a mesma do sítio onde se paga. A partir daí a paisagem tornou-se muito mais interessante e em pouco tempo estávamos nas últimas curvas e contracurvas até à beira Mar Morto.


Nadar no Mar Morto, pelo menos no lado da Jordânia, está normalmente reservado para quem fica nos hotéis ou paga pelas estâncias balneares. Contudo, pagar vinte euros para nadar no mar é contra os meus princípios, por isso dirigimo-nos até ao ponto do Google que diz “Free hot springs” e que nos comentários dizia que também tinha acesso à praia.

Chegámos, estacionamos no meio da estrada onde diz que é proibido (como toda a gente), e trocámos de roupa no carro. Mal saímos notámos que estávamos a ser atacados por dezenas de moscas, mas achámos que era por termos estacionado perto do lixo. Não. As moscas e o mar morto são um pacote, não há um sem o outro.

Lá descemos pelo carreiro de gravilha até à “praia”. Claramente um local onde os habitantes ali da zona vão aos fins de semana. A água é limpa, mas há bastante lixo no chão. Nós só queríamos ter a sensação de flutuar no mar morto e para isso serviu bem. É muito estranho! Flutuar é fácil, mas pôr-mo-nos em pé é difícil, parece que a gravidade deixou de funcionar!


Todos achámos que foi uma experiência divertida, mas entre as moscas e os rapazes locais a olhar para nós como se nunca tivessem visto nada assim, não sei se é algo que me apeteça muito repetir. A água também nos deixou com uma sensação muito oleosa na pele. Não sei se foi dali, daquela zona não oficial, ou se é sempre assim. Depois de um banho rápido, despejámos umas garrafas de água doce pela cabeça abaixo para nos limparmos e voltámos à estrada.

No mesmo sítio também podes encontrar a famosa argila do mar morto para te besuntares com ela. Se fores só com um grupo de mulheres ou uma mulher a viajar sozinha aconselho-te a optares pela praia de um resort.

Por fim, penso que posso dizer que o Mar Morto é mais giro lá fora do que lá dentro.

Inicia-se a saga dos desfiladeiros

Se no mar morto nada mexe, no Wadi AlMujib a história é outra! Este desfiladeiro tem cascatas, rápidos e umas boas duas horas de adrenalina para te oferecer.

O acesso custa 21 JD, que inclui um colete salva-vidas ranhoso. Tinha lido que era possível alugar sapatos para a água na recepção, mas desde o COVID que deixaram de estar disponíveis, por isso lá fomos com botas de caminhada e ténis para a água. Aconselho-te, não só para esta caminhada, mas para a Jordânia em geral, a ter umas boas sandálias de caminhada. São muito mais apropriadas para o terreno e vais estar preparado/a para a possibilidade de encontrar caminhos com água.

Connosco, levávamos apenas uma bolsa impermeável para o telemóvel para podermos tirar fotografias e estávamos prontos para a aventura.


O Wadi Al Mujib só está aberto até de Abril/Maio até ao fim de Outubro ou consoante as chuvas. Se chover pode fechar devido à força da água. Nós tivemos sorte, fomos no fim de Outubro, ou seja depois da época seca e só precisamos de nadar nalgumas zonas. Explorar um desfiladeiro assim foi incrível. Nunca sabíamos as formas e as cores que as paredes iam tomar e foi super divertido andar e esbracejar na água e arrastarmo-nos em cordas para não irmos com a corrente.


Não achei o caminho difícil, mas recomendo que saibas nadar bem e que estejas confortável com a água. Nós fizemos sem guia e havia bastante gente a fazer o percurso por isso tivemos sempre a certeza que estávamos a ir pelo caminho certo (também não há muito que enganar), mas tens sempre a possibilidade de contratar um guia para te ajudar.

Acho que demorámos cerca de 45 minutos a chegar ao fim do caminho e a volta foi mais fácil já que podíamos ir com a corrente e não contra ela. As fotos não são as melhores, mas esta foi sem dúvida uma das coisas que mais gostei de fazer na Jordânia e se fores na altura certa e tiveres carro vais ver que é uma experiência inesquecível!


Faltava-nos então concluir a etapa mais longa do dia: conduzir até Dana. Aqui percebemos que os tempos de condução dados pelo Google não são muito fiáveis… Do desfiladeiro até ao nosso alojamento em Dana devíamos ter demorado menos de duas horas e penso que demoramos quase três pelo tipo de estradas. A parte positiva é que a paisagem é linda, tanto no mar morto como quando se começa a subir para o interior do país. Chegámos a Dana já de noite e esfomeados, felizmente as nossas “casas-Chocapic” tinham um jantar delicioso à nossa espera. Mas mais sobre isso no próximo post!

Dicas rápidas

Alojamento Mar Morto: É bastante caro ficar alojado no Mar Morto, por isso decidimos ficar a noite antes em Madaba e a noite seguinte em Dana.

Comida: Trás mantimentos porque não vais encontrar restaurantes ou cafés no caminho. Madaba foi o último sítio que visitámos onde era fácil encontrar/comprar álcool.

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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