Star Wars, The Martian, Dune e Lawrence of Arabia têm todos uma coisa em comum: cenas filmadas no deserto Wadi Rum. Não é por acaso. A melhor palavra para descrever Wadi Rum é “Marte”. Laranja e vermelho com rochas moldadas pelo vento nas mais estranhas formas, este é o cenário que imaginamos nos contos Mil e Uma Noites.
Depois de uma manhã bem preenchida em Petra, conduzimos duas horas até à vila de Wadi Rum onde o Mohammed estava à nossa espera. A partir dali, despedimo-nos do carro e passámos para o jipe que nos levaria ao nosso alojamento para as duas noites que se seguiam: tendas Beduínas no meio do deserto.
A melhor noite da viagem
As tendas ficam apenas a 20/30 minutos da aldeia, por isso as comodidades são muitas. Até um duche com água corrente pudemos tomar. Acho que foi o meu primeiro duche a sério num deserto!
Em pouco tempo estávamos em contagem decrescente para o pôr do sol e enquanto nos deleitávamos com as cores do céu, também elas alaranjadas, fomos ver o chefe de “cozinha” a enterrar o nosso jantar. Sim, no deserto do Wadi Rum o solo é o forno. Há um buraco com brasas e quando estão prontas a carne e vegetais são lá postas e cobertas com areia. Passado uma hora está pronto, desenterra-se o jantar e vamos para a mesa.
Sem internet disponível, não é que as pessoas têm que falar umas com as outras e passar um serão bem mais agradável? Esta foi a noite mais memorável de toda a viagem.
Juntou-se um casal espanhol, um casal alemão e um casal inglês/indiano na tenda de refeições e conversámos noite fora. O contraste entre a espanhola de Sevilha e os Alemães era de morrer a rir. Já o Catalão era um ultra-maratonista que arranhava o inglês e, apesar de ser o mais introvertido, tinha histórias suficientes para um mês de conversa. Mencionou que um dos lugares mais bonitos onde já tinha estado eram “umas ilhas do Íemen”. Para um homem que já correu, literalmente, o mundo todo, pareceu-me intrigante. Ficou a sementinha para o futuro.
A noite de conversa terminou com uma observação de estrelas e descoberta de constelações. Infelizmente já não nos reuniríamos todos na noite seguinte, mas ficaram as memórias de uma noite de muita galhofa poliglota.
Mensagens do Passado
Parece-me que, ao contrário de Petra, não há muitas formas originais para visitar o deserto Wadi Rum. Tanto pelo jipe como pelo sentido de orientação, estás dependente de uma tour, geralmente organizada pelo teu alojamento.
Os pontos são sempre os mesmos, penso que se tiveres dois dias possas ir a lugares mais longe, mas nós ficámo-nos pela tour tradicional. Pagámos cerca de 25€ por cabeça com transporte, almoço e “guia” incluídos.
Sendo eu muito reticente no que toca a tours organizadas, fiquei surpreendida pela quantidade de coisas que conseguimos ver naquele dia. As paisagens, essas já sabemos, são de cortar a respiração. Contudo, não fazia ideia do património cultural que o Wadi Rum tem para oferecer!
A primeira paragem da tour é uma nascente natural com pouca força. À primeira vista não é muito impressionante, mas esta nascente começou a ser usada no tempo dos Nabateus como ponto de reabastecimento de água nas rotas comerciais entre a Arábia e o Levante.
Foi aqui que vimos o nosso primeiro ponto arqueológico do dia, ainda sem muito contexto. Existem mais de 154 pontos de relevância arqueológica em Wadi Rum e parece que a nossa espécie simpatiza com a zona desde há pelo menos 12 000 anos!
Na Jordânia quase tudo o que há de bom acontece em desfiladeiros e Wadi Rum não é excepção. A meio da manhã visitámos o Khazali Canyon, um desfiladeiro com inscrições que vão desde o Neolítico até à era dos Nabateus.
Do passado mais distante, vemos inscrições que representam actividades agrícolas, caravanas de comerciantes e caça bem como o nascimento de um bebé. Este é o “alfabeto” Tamúdico. Com o tempo as inscrições aproximaram-se mais do árabe, e é nessa língua e alfabeto que se encontram as mais recentes palavras do desfiladeiro. Muitas delas são preces e rezas de peregrinos na sua jornada até Meca.
O nosso guia contou-nos que aquelas paredes serviam um pouco como jornais, para comunicar com outros comerciantes e tribos nómadas que por ali passavam.
Sestas Beduínas
Para além dos rabiscos milenares, passámos o dia a saltitar de rocha em rocha, cada uma com um nome adequado à sua forma. O almoço e sesta foram uma das minhas partes preferidas do dia. Ao estilo Beduíno, o nosso guia pára numa sombra (sim, elas existem) e pede-nos para ir apanhar paus. Qual camping gás qual quê!
À estilo survivor, começa uma fogueira e cozinha o seu maravilhoso estufado de feijão que ainda não consegui replicar. Com pão, atum, tomates, pepinos e este maravilhoso estufado não podíamos ter pedido um repasto melhor.
O dia terminou como terminam todos os dias no deserto: no topo de uma rocha a olhar para um pôr do sol tímido entre a neblina. Quando voltámos ao acampamento aguardava-nos mais um Zarb – frango e legumes cozinhados na terra. Eles dizem que só o fazem de vez em quando, para as pessoas se sentirem especiais, mas fazem todos os dias claro! Seguiu-se outra noite na conversa, desta vez sem o “salero” espanhol.
Acabar dentro de água
Estávamos mesmo na recta final da nossa viagem à Jordânia, mas havia uma última cidade para visitar: Aqaba. Aqaba é o tipo de sítio onde se encontram resorts de férias e pubs irlandeses.
Não é certamente o lugar mais encantador da Jordânia, mas tem uma coisa que rivaliza com a beleza dos desertos e desfiladeiros do resto do país: o Mar Vermelho.
É no Mar Vermelho que estão alguns dos mais bonitos corais do mundo e em Aqaba podes vê-los simplesmente dirigindo-te à praia com uma máscara de snorkeling. Já há muito tempo que não via corais assim e tanta variedade de peixes cada um de sua cor. Algumas dicas se quiseres ir à praia e fazer snorkeling na Jordânia:
1. Precisas de carro para chegar à South Beach. É uma praia pública e gratuita, onde as mulheres podem estar de biquíni. Tem estacionamento e casas de banho/chuveiros.
2. Se fores mulher e estiveres a viajar sozinha ou com um grupo só de mulheres aconselho-te a ir para a praia de um resort ou numa snorkeling tour. Há demasiados rapazes a olhar intensamente e a meter conversa. Se não tiveres carro, as tours também são uma boa opção. Há muitas.
3. O nosso hostel alugava equipamento de snorkeling e certamente é uma prática comum na zona.
Em Aqaba:
- Restaurante de peixe bom e barato aqui.
- Visita Ayla, uma zona para pessoas ricas com lojas e restaurantes finos. É tudo muito limpo e arranjado. Eles deixam os turistas entrar só para ver e comer gelados a preços inflacionados.
- O pôr do sol perto da Fortaleza de Aqaba é muito popular tanto para turistas como para a população local. E podes ver Israel e o Egipto ao mesmo tempo!
Assim terminou uma semana na Jordânia onde não houve um dia em que não dissessemos “hoje foi espectacular”. Um país com tanto para oferecer e já ali ao lado!
Dicas rápidas
Alojamento Wadi Rum: Paguei 7€ para três pessoas, duas noites, com pequeno almoço incluído. Como? O Bedouin Night Camp faz preços ridiculamente baixos para depois ter pessoas a fazer as tours com eles e jantar. Contudo, o preço da tour é justo e do jantar também. Eles são cinco estrelas e como disse, foram as nossas melhores noites na Jordânia!
Alojamento Aqaba: Ficámos na Hakaia Community, um hostel com gente boa onda e com staff que nos deu muito boas dicas. Pagámos cerca de 15€ por pessoa.