Jordânia

Petra: uma maravilha que se desdobra em mil

Petra leva milhões de turistas à Jordânia todos os anos. Mas quantos saberão que aquela famosa fotografia de Petra, do Treasury (Tesouro), que toda a gente tem como referência, é quase insignificante quando comparada com a dimensão real da cidade perdida? Estima-se que, até hoje, só se tenha escavado cerca de quinze porcento de Petra e que ainda haja muito por descobrir.

Sabia que tinha de dedicar dois dias completos à exploração desta maravilha do mundo moderno e quando comprámos o Jordan Pass, escolhemos o modelo “Explorer” que dá acesso a dois dias em Petra.


Sendo este um dos lugares mais turísticos do mundo, há toda uma panóplia de itinerários turísticos para o visitar. Felizmente também há algumas formas de viver Petra. No meu dicionário, “viver” significa fazer a pé os melhores trilhos que a região tem para oferecer. Foi quando comecei a pesquisar sobre as melhores caminhadas de Petra que encontrei o jackpot: um caminho pela “porta das traseiras de Petra”!


Entrar pela porta do cavalo

O nome pode não parecer muito apelativo, mas a par da caminhada do Wadi Ghuweir, esta foi a melhor decisão que fiz nesta viagem. Começando em Little Petra e acabando em Wadi Musa, esta caminhada leva-te por paisagens desertas fantásticas que quase ninguém conhece, passa pelo Monastery (Mosteiro) e desce até às mais famosas ruas de Petra. É um caminho bem mais agradável e fácil que o caminho oficial com a vantagem acrescida de ser “contra a maré”.

A primeira coisa a fazer antes de começares a tua caminhada é levantar os bilhetes na entrada oficial em Wadi Musa. Se tens o Jordan Pass, diz ao staff da bilheteira e eles indicar-te-ão a fila correcta. É um pouco confuso, mas eles eventualmente lá se organizam. Estes bilhetes vão dar-te acesso à caminhada em Little Petra. Se levares só o Jordan Pass não te deixam entrar.

Esta é também a tua última oportunidade de comprar mantimentos a preços razoáveis num supermercado em Wadi Musa. O que vale é que há supermercados com pão fresco, húmus, baba ganoush e fruta que nos mantiveram bem nutridos o dia todo.

Depois de teres os bilhetes na mão e a comida na mochila, está na hora de ir negociar com os taxistas para te levarem até Little Petra. Eles pedem cerca de 15JD. Sei de pessoas que conseguiram por 8JD. Eu só consegui baixar até aos 10JD. O taxista era um querido e apesar de nos ter tentado dissuadir de fazer a caminhada (eles vão dizer que é muito difícil e perigoso) depois lá se convenceu. Também disse que para homens até dava, mas que para mulheres não. Respondi-lhe que era mais forte que os homens e a partir daí chamou-me “super lady” o resto da viagem.


À entrada de Little Petra é possível que haja mais guias a tentar dissuadir-te da caminhada, mas agradece, sorri e eles eventualmente desistem.

Aconselho-te a começar a caminhada cedo por causa do calor, nós fomos no fim de Outubro e ainda estava bem quente. E reserva 20/30 minutos para explorar Little Petra antes de começares a caminhar.


Valha-nos o GPS

Apesar da caminhada poder parecer intimidante por causa dos seus dezoito quilómetros, o caminho em si é fácil de seguir e diria que não precisas de um grande nível de fitness. Mas definitivamente precisas de GPS. Podes fazer download do ficheiro aqui. Este é o único trilho que posso recomendar e deves segui-lo à risca. Eu uso uma aplicação chamada gpx viewer para abrir os ficheiros gpx e seguir o caminho.

Há mais trilhos noutras aplicações como o All Trails, mas têm um início bem mais complicado e exposto.


Quando fizemos este caminho penso que uma ou duas vezes ficámos com dúvidas por onde seguir, mas facilmente encontrámos a direcção correcta. A partir de uma altura começa a haver placas a dizer “Monastery” e cafezinhos. A paisagem é muito diversa e vais passando por pequenas casas (aka barracas) de pastores e miúdos a vender pedras (que podes simplesmente encontrar no chão). Para além de bonito, este caminho está quase inexplorado, o que é raro em Petra!


Hora e meia depois, começou a espreitar por trás das rochas o pináculo do Mosteiro e ali estava, perante nós, aquele que seria o primeiro de muitos monumentos “uau!” em Petra. Construído no mesmo estilo do Tesouro (Treasury), mas ainda maior, o Mosteiro merece ser apreciado com calma. Felizmente, mesmo à frente do Mosteiro, está o café com a segunda melhor esplanada da Jordânia. O número um vem a caminho!


A imensidão de Petra

Por esta altura já nos tínhamos começado a aperceber da imensidão de Petra, mas foi quando descemos a escadaria interminável até ao que é considerado o centro da cidade que sentimos que bem podíamos passar ali uma semana que não íamos ver tudo o que tem para oferecer.


Neste primeiro dia decidimos não nos aventurarmos demasiado por trilhos secundários já que mesmo sem desvios seriam 22 quilómetros que acabaríamos por fazer. Mesmo assim, não deixámos de nos deslumbrar pelos túmulos reais, o teatro romano e pelo desfiladeiro principal que liga o centro da cidade à perola de Petra: o Tesouro. Às quatro da tarde o Tesouro está cheio de turistas, mas não deixa de ser esplendoroso.

Decidimos dar por terminada a exploração de Petra neste primeiro dia, até porque tínhamos que acordar às cinco da manhã no dia seguinte para termos o privilégio de sermos uns dos primeiros a chegar ao Treasury no dia seguinte.


Se como nós, estiveres em desespero por uma cerveja, aviso-te que é uma empreitada quase tão grande como andar 22 quilómetros! Só encontrámos bebidas alcoólicas (a um preço pouco simpático) no The Cave Bar. Mas soube pela vida! Restava-nos um sono pouco descansado num “hostel capsula” e um despertador programado para horas pouco amigáveis.


O crepúsculo dos Nabateus

As portas de Petra abrem-se às 6 da manhã e às 6:10 já tínhamos passados os torniquetes, ainda iluminados com a luz da lua. Da entrada até ao Tesouro são cerca de 45 minutos a percorrer o mesmo desfiladeiro que comerciantes nómadas percorriam há mais de dois mil anos.


Em menos de nada estávamos a dar os passos finais e o Tesouro, desta vez vazio, estava mesmo ali à frente dos nossos olhinhos sonolentos. Sem burros, cavalos, camelos ou carrinhos de golfe dá para voltar atrás no tempo e ter um cheirinho de como era Petra durante todos os séculos que permaneceu escondida do mundo.

Mas o nosso objectivo ainda não estava cumprido. O café com melhor vista do mundo estava à nossa espera!


Um sumo de laranja e romã com vista

Por todo o lado há miúdos a dizer que te podem levar à melhor vista de Petra, um miradouro no topo do desfiladeiro com uma vista maravilhosa sobre o Tesouro. Contudo, eles não o fazem de graça e argumentam que aquele é o único caminho.

Só que não é. Há um caminho, absolutamente gratuito, que começa na zona dos túmulos reais: o Al Khubtha Trail (número 2) e que te leva até ao café com a melhor vista do mundo. Pelo caminho, tens que subir muitas escadas, mas vale a pena. A caminhada demora cerca de 45 minutos/uma hora.


Chegámos tão cedo que o dono do “café” (uma tenda beduína) ainda estava a abrir. Apesar de poderes ver a vista de outros pontos, é quando desces as escadas e entras na tenda que tens mais um daqueles momentos “uau, estou aqui!”. Pedimos uns suminhos naturais e ali ficámos durante algumas horas a olhar para a luz a mudar, as pessoas a chegar e a absorver tudo o que aquele lugar tinha para oferecer.



A caminhada do Sacrifício

As nossas horas em Petra estavam a chegar ao fim. Da zona dos túmulos reais fomos explorar a Igreja do século V d.c, com mosaicos que rivalizam os de Madaba.

A caminhada que nos restava fazer era a número três, até ao “Lugar Alto de Sacrifício” (High Place of Sacrifice). Optámos por começar no Qasr al-Bint, o mais importante templo de Petra. O caminho também pode ser feito a partir de uma entrada entre o Teatro Romano e o Tesouro, mas a subida é mais intensa.


Esta caminhada leva-te por vários túmulos, incluindo alguns com esculturas Romanas e mais vistas incríveis sobre a extensão de Petra.

Esta cidade perdida tem sítios suficientes para explorar durante uma vida toda, mas nós só tínhamos dois dias e estava na hora de nos fazermos na estrada e seguirmos para o nosso próximo destino: o deserto de Wadi Rum!



Dicas rápidas

Alojamento: Ficámos no Petra Cabin Hostel, por que foi o alojamento mais barato que encontrámos. Não é uma experiência particularmente agradável. Há imensa gente no mesmo espaço, um dormitório gigante com camas “fechadas”, mas como foi só uma noite não foi trágico. A comida ao jantar era boa e eles também podem dar-te uma lunchbox para Petra.

Se ficares aqui aconselho-te a levar bons tampões para os ouvidos e uma máscara para os olhos.

Jordan Pass: Já mencionei noutros artigos, mas o Jordan Pass é uma das melhores coisas da Jordânia. A diferença entre as três modalidades do Jordan Pass está na quantidade de dias de acesso que te dá a Petra. Podes escolher um dia, dois ou três. Dois dias foi perfeito, escolhe três se quiseres fazer TODAS as caminhas que Petra tem para oferecer. Se não comprares o Jordan Pass, podes comprar o bilhete à entrada. Um dia: 50 JD, Dois dias: 55 JD, Três dias: 60 JD.

Restaurantes & Supermercados: Os restaurantes na Jordânia são surpreendentemente caros, por isso optámos por comer nos alojamentos ou fazer as nossas próprias refeições com coisas que encontrámos nos supermercados. Para Petra vais querer levar muita água e comidas leves. Dentro da cidade perdida vais encontrar muitos cafés, alguns com comidas básicas também, por isso não vais morrer à fome!

Caminhadas: Na bilheteira vais encontrar um mapa valiosíssimo com todas as caminhadas de Petra, pontos de interesse, casas de banho, etc. É gratuito e disponível em várias línguas. Quando comecei a ler sobre Petra fiquei muito confusa com a quantidade de nomes, caminhadas e sítios que li por essa internet fora. O mapa vai ajudar-te muito a planear os teus dias!

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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