Grécia

Skiathos: Embrulhada em Pinheiros

“Primeira vez em Skiathos?” Foi a pergunta que mais vezes me fizeram durante a minha estadia na ilha. Eventualmente percebi porquê. Skiathos é a uma ilha a que se volta.

Depois de uma semana intensa que começou em Atenas, passou por Meteora e acabou nas Ilhas Jónicas, restavam-me dois dias sozinha na Grécia e havia que encontrar a melhor forma dos preencher. Escolher UMA ilha não foi tarefa fácil, mas um voo directo de Skiathos para London City convenceu-me e a minha última ilha foi escolhida pela conveniência da volta, mas não da ida!

Para chegar a Skiathos a partir de Atenas há duas opções: voo ou autocarro mais ferry. Como as horas do voo não eram as melhores, lá apanhei um autocarro que chegou à uma da manhã a Volos, onde dormi umas horas, e apanhei o ferry que me levaria até esta ilha verdejante.

Os dois dias que tinha em Skiathos iam ser para acabar com o que restava da minha energia. Assim que cheguei ao hotel, descarreguei a mochila e fiz-me à estrada: os melhores trilhos e praias de Skiathos estavam à minha espera.

Verde com verde

Os autocarros em Skiathos são parecidos com os da Carris, aparecem quando lhes apetece. Na paragem iam-se acumulando turistas que consultavam os horários impressos e os seus relógios. A maioria deles, do Norte da Europa, pareciam confusos com o atraso.

Eventualmente o autocarro lá veio, pagamentos só em dinheiro, e lá fomos nós, qual excursão do INATEL. O meu destino ficava quase na última paragem e ao pôr o pé fora do autocarro deparo-me com um mar de pinhais.

Com um pequeno guia de caminhadas e o Google Maps na mão e podcasts nos ouvidos, comecei a desbravar caminho para conhecer algumas das melhores praias da ilha. O tempo não estava no seu melhor, mas ninguém precisa de 30 graus e sol para fazer quilómetros e quilómetros a pé.

A Mandraki Beach é de fácil acesso a partir da estrada principal e é bastante comprida. No fim da praia há um género de mini-península que a liga à Elia Beach. É possível chegar-se lá a pé, a partir da praia, mas tens que te meter por uns caminhos não indicados (não é difícil).

Praias secretas e pilinhas livres

A partir daí voltei ao caminho principal encontrei algumas das vistas mais bonitas que Skiathos tem para oferecer. Sempre pela costa, passando pela praia Krifi Ammos e Agia Eleni, as cores do mar e dos pinheiros vão-se transformando a cada passo. De vez em quando passava uma mota ou carro por mim, mas não me pareceu que os pés fossem o principal método de transporte de quem visita Skiathos.

Ao descer para as últimas duas praias penso “vou aqui para descansar e ir ao banho”. Ao aproximar-me da praia começo a perceber que há algo que não está bem… Toda a gente estava nua! Deve ser por isso que no Google Maps esta praia nem nome em inglês tem.

Entre o choque e o divertimento, tentei ver discretamente no telemóvel como sair dali e percebi que, depois de umas rochas, havia uma outra praia onde talvez me pudesse refugiar. Assim foi! Mal passei as rochas percebi que tinha encontrado o “meu sítio” em Skiathos. Tudo à minha volta era verde, incluindo a água. As pessoas na praia contavam-se pelos dedos e como estava abrigada do vento a água morna chamava por mim. Penso que até pelas brazas passei na Paralia Mpanana.


“Estás sozinha?!”

A fome obrigou-me a levantar o rabo e ir procurar almoço, ao começar a andar até à entrada oficial da praia apercebi-me por que é que aquela praia era tão boa: estava na praia dos ricos! Tinha passado as últimas horas na pequena parte não concessionada de uma praia de um resort de luxo. A praia em si não é privada, mas está dentro do complexo “NEST Suite”, um dos mais exclusivos da ilha. As minha botas de caminhada e roupas maltrapilhas atraíram alguns olhares de “esta não pertence aqui”, mas ninguém correu comigo.

A vila mais perto chama-se Koukounaires e é onde podes encontrar refeições a preços decentes. Eu acabei no “Under the Pine Tree” a comer uma porção suficiente para duas ou três pessoas. Toda a gente fica fascinada com uma mulher a viajar sozinha em Skiathos. É claramente um destino de casais, tal como a maioria das ilhas gregas. Inevitavelmente os empregados metem conversa e fiquei a saber que, a partir de Outubro, tudo fecha em Skiathos e que a maioria do staff ali são estudantes universitários em Atenas a fazer uns trocos no Verão.

Calorias repostas, fiz mais uns quilómetros pela estrada que me levaria até ao centro de Skiathos. Quando a estrada começou a afastar-se do mar decidi apanhar o autocarro de volta e que aventura que foi, parecia que estava no Sri Lanka. O autocarro cheio, o senhor que recolhia o dinheiro aos passageiros era um género de animador turístico e as pessoas só se riam. Chamava-me princesa e fez de um nadador-salvador o meu par (eles têm alergia a mulheres sem homens ao lado). Foi uma festa!

Em busca da essência de Skiathos

A falta de sono dos dias anteriores finalmente apoderou-se de mim a minha primeira noite em Skiathos não foi a mais entusiasmante. Descobri que os vizinhos do quarto ao lado do meu viajam para Skiathos todos os anos e ficam naquele hotel porque adoram ver os aviões a aterrar.

Uma das atracções da ilha é a pista de aterragem que está mesmo em cima do centro da vila. Um espectáculo gratuito para os turistas que ali passam. Mesmo com o meu medo a andar de avião tenho que admitir que é bastante giro e a minha varanda era como um camarote de luxo.

Na manhã do meu último dia completo em Skiathos acordei bem cedo para ir explorar as tradicionais ruas do centro. Casas brancas, um toque de azul e muitos gatos vadios caracterizam o lado mais castiço da ilha.

Um pouco por sorte fui dar à Paralia Plakes onde encontrei o cantinho mais bonito de Skiathos. Não lhe posso chamar uma praia, mas este abençoado bocado de rochas tem uma água limpíssima e forma uma baía muito pitoresca.

Não querendo chegar atrasada, regressei ao porto de Skiathos em passo rápido, por que o melhor dia da viagem à Grécia estava prestes a começar.

Mamma Mia!

Não foram precisas muitas horas de pesquisa para perceber que havia UMA coisa que tinha mesmo que fazer em Skiathos: um passeio de veleiro pelas ilhas vizinhas. Uma dessas ilhas (a mais bonita) chama-se Skopelos e ficou famosa por ser o cenário do filme Mamma Mia.

É nestas alturas que o TripAdvisor vem ao nosso auxílio e nos mostra qual é a melhor tour disponível. As três tours mais votadas pareciam todas boas, mas consegui lugar na “número 1”, Go4Sailing, e nesse dia percebi o porquê de todas as reviews serem cinco estrelas (o que até parece suspeito!). Às dez da manhã onze turistas (eu não tinha par!) juntaram-se à beira do veleiro do capitão Theo. Apresentações feitas, estávamos prontos para passar um dia no mar.

O passeio conta com quatro paragens, muitos mergulhos e um pôr-do-sol fenomenal. A tal ilha de Skopelos, onde parámos para nadar e almoçar, é algo de outro mundo. Tanto a ilha como a água são de um verde vibrante e muitas das praias só são acessíveis por mar. Um paraíso, portanto!

Contudo, o que marca mesmo a diferença nesta viagem é o capitão. O capitão Theo não é só capitão: ele limpa o barco, arranja-o, cozinha (o almoço foi um autêntico banquete), é DJ e tudo mais que possas imaginar. Num mundo em que estamos completamente dependentes dos nossos ecrãs, o Theo só olha para o telemóvel quando tem pessoas a querer marcar tours. Um verdadeiro nómada não digital.

O meu lugar preferido do dia foi um “aquário selvagem” que visitámos. Uma gruta de fácil acesso perfeita para snorkeling, com uma quantidade de vida marinha espectacular. Quando o nosso tempo juntos estava a chegar ao fim e tínhamos perdido a esperança de um bom pôr do sol por causa das nuvens, a Grécia surpreende por uma última vez e deslumbra-nos com as suas cores.

A tour em 2021 custava 80€ por pessoa e inclui almoço, bebidas (incluindo cerveja e vinho) e fruta. Esta tour é a que dura mais tempo e o Theo adapta-se aos seus convidados. Nós voltámos a terra por volta das 19:30. Se tiveres que escolher uma coisa para fazer em Skiathos, este passeio é a decisão certa.

Banhos e despedidas

A beleza de viajar sozinha é a facilidade com que se conhece pessoas. Passei a noite a conversar com uma rapariga inglesa do meu hotel que tinha ficado “presa” em Skiathos por ter apanhado Covid. Entretanto já conhecia toda a gente da ilha, incluindo os donos dos restaurantes e bares que nos acolheram como velhas amigas.

Na minhas últimas horas em Skiathos fui trabalhar para o bronze e nadar na Paralia Megali Ammos que bem cedo não está demasiado cheia. Afinal, umas horas depois estaria em Londres e tinha que apanhar todos os raios de sol possíveis.

Skiathos foi uma decisão espontânea e acabou por se tornar num dos meus lugares preferidos na Grécia. Como todas as pessoas que por lá passam, espero voltar um dia.

Dicas rápidas:

Alojamento: Tratei a minha viagem a Skiathos como uma prenda de aniversário para mim mesmo e decidi ficar num hotel um bocadinho mais jeitoso que o normal. O Hotel Babis tem o staff mais dedicado e atencioso da Grécia e uma vista maravilhosa, especialmente do último andar. Recomendo a 100%.

Restaurantes: Como fui a Skiathos no fim da minha viagem à Grécia, já não me apetecia muito ir a restaurantes. Contudo, recomendaram-me dois que vale a pena experimentar (talvez tenhas que marcar). Mesogia Taverna e Mouragia. Se quiseres peixe fresco, experimenta a Akrogiali Tavern.

Guia de caminhadas: Adoro fazer longas caminhadas quando viajo sozinha e Skiathos não foi excepção. Comprei este livro num quiosque no centro da vila e só tive pena de não ter tido mais tempo para explorar os outros trilhos recomendados.

Lalaria Beach: Esta praia está no “top” de lugares a visitar em Skiathos. Só é acesível de barco e as excursões duram cerca de quatro horas. É uma praia muito diferente das outras na ilha, mas muito semelhante às que já tinha visto nas ilhas Jónicas. Se tiveres orçamento para isso recomendaria ou ir num barco privado ou numa tour que saia bem cedo para evitar as multidões.

Mosteiro e praias de difícil acesso: alugando uma mota ou um carro há muito mais para explorar em Skiathos. Abre o Google Maps e começa a explorar!

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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