São Tomé e Príncipe

O Sul de São Tomé: mais leve-leve não há

“Vamos ver se o Hondinha se aguenta no Sul”. São Tomé pode ser um país em miniatura, mas isso não significa que a estrada que liga o norte ao sul se faz num instantinho. Para ir ao sul são precisos pelo menos três dias e uma boa dose de força na lombar para aguentar tanto solavanco.

A estrada pode não estar nas melhores condições, mas as paisagens são lindas e acabas por passar por alguns dos lugares mais icónicos da ilha.


Como em todo o lado, a dificuldade de acesso é proporcional à paz e tranquilidade. Acordar com o som das ondas (ou de uma tempestade tropical a cair-te em cima) e ter uma praia paradisíaca, vazia a teus pés é a norma. Seguimos para o Sul?

Boca do Inferno

Baptizada com o mesmo nome da sua homónima em Cascais, esta Boca do Inferno também tem rochas e ondas a rebentar num bonito espectáculo de espuma. Acrescentam-se dezenas de palmeiras e uns garotos a vender cocos e temos o lugar ideal para observar a natureza em todo o seu esplendor.


Praia das Sete Ondas

A minha praia preferida para banhos em São Tomé! Perfeita para aprender a surfar ou fazer carreirinhas. O bar da praia também é muito simpático, tem snacks e refeições e camas de rede. Tudo o que precisas para a prática da preguiça.

Praia Micondo

Mais uma praia que merece uma visita, nem que seja só para um mergulho rápido ou picnicar uma sandes de atum.

Roça São João dos Angolares

Possivelmente a Roça mais saborosa de São Tomé. Propriedade do chef João Carlos Silva, conhecido pelo seu programa Na Roça com os Tachos, esta Roça tem uma vista incrível e um menu de degustação que celebra os sabores da ilha. Nós só parámos em São João dos Angolares para espreitar a Roça, mas fizémo-lo com toda a pompa e circunstância.


Assim que subimos a rampa de acesso, demos de caras com músicos e dançarinas que estavam ali à espera de um grupo de turistas. Como aparecemos nós, tivemos direito a uma pré-performance. No fim, até dancei com um dos cozinheiros!

O menu de degustação são cerca de 35€ por pessoa, sem vinho.

Pico Cão Grande

663 metros acima do nível das águas do mar, ergue-se o icónico Pico Cão Grande. A sua forma peculiar e sugestiva, domina a paisagem do sul de São Tomé. Mergulhado num mar de palmeiras e floresta tropical, o topo desta rocha vulcânica foi escalado pela primeira vez por três mulheres em 2019.


Da estrada, o Pico Cão Grande dá fotografias espectaculares de todos os ângulos, mas não há nada como vê-lo a partir de um rio maravilhoso que desagua numa praia intocada. Assim que chegámos, sabia que aquele ia ser o meu lugar preferido em São Tomé, impossível de descobrir sem a ajuda da Arminda e da Catarina. Um mergulho inesquecível!

Ilhéu das Rolas

Num barquito de madeira faz-se a travessia de São Tomé até ao Ilhéu das Rolas em quinze minutos. Nas Rolas as árvores engoliram a terra e tudo é verde, até a água. Uma pequena comunidade vive ali, cerca de duzentas pessoas, que subsiste do pouco turismo que recebe. Tal como na ilha principal os porcos e as galinhas passeiam descontraidamente pelas ruas de terra.


O ponto mais famoso do Ilhéu é o Marco do Equador, que assinala o lugar onde passa esta linha imaginária que divide o Hemisfério Norte do Sul. Chegámos lá depois de uma curta caminhada a partir do porto, ténis recomendam-se!

O nosso querido “capitão” ofereceu-se para nos guiar nesse dia e, enquanto descíamos do Marco até à Praia Café, foi-nos contando a dura realidade dos habitantes da ilha. Muitas pessoas daquela comunidade trabalhavam para o resort do grupo Pestana até que, por causa do Covid, fechou sem previsão de reabertura. Hoje, três anos depois, ainda não reabriu.


Enquanto o resort estava aberto havia emprego, mas era miseravelmente remunerado com o ordenado mínimo (50 a 60€ por mês). Agora, não existe emprego nem acesso ao único poço de água potável do Ilhéu, que está dentro do complexo do resort, inacessível aos habitantes locais. Na época seca a vida torna-se ainda mais difícil.

Aconselho-te a explorar as várias praias do Ilhéu de barco, como a Praia Bateria, e até as partes mais remotas do Sul onde as estradas não chegam.

Praia Piscina

Esta é uma praia de sonho. Literalmente! Fizemos ali uma bela soneca depois de almoço. Para além de ter um areal plano, perfeito para banhos de sol e sestas, a Praia Piscina é uma obra de arte a nível da geologia e geografia. Com paisagens deslumbrantes para onde quer que se olhe, a cereja no topo do bolo é a piscina natural que se forma entre as rochas. Tem cuidado com os ouriços!

Se tiveres tempo, esta seria a minha praia de eleição para passar um dia inteiro no leve-leve.


Jalé

Se houve um lugar que marcou a diferença nos nossos dias no Sul, foram os bungalows na praia onde ficámos duas noites. Quando digo na praia, é mesmo em cima da areia! No quarto, ouvem-se as ondas, a não ser quando as chuvas tropicais se abatem sobre o telhado. Mas com chuva ou sol, sair do bungalow de manhã para uma praia absolutamente deserta é único.


As minhas memórias da Jalé são deliciosas. Um primeiro jantar, uma salada de atum feita e comida com as mãos. Pequenos-almoços na praia com o ananás mais doce do mundo. Uma despedida na Vanhá, para onde fomos à boleia numa carrinha de caixa aberta, onde vimos um por do sol mágico, onde se bebia um gin local e onde o chef do restaurante nos cozinhou uma das melhores pizzas da minha existência.

Não arranjámos boleia para voltar para a Jalé, por isso caminhámos meia hora ou quarenta minutos pela floresta, a conversar sobre a vida, debaixo de um céu cheio de estrelas e galáxias. Já tenho saudades!


O Nélson

Num dos dias da nossa viagem, as “estradas” do sul finalmente fizeram os seus estragos no nosso Hondinha. Uma rocha escondida numa poça lamacenta deslocou o tubo de escape que estremecia por todos os lados. Estrada 1 – Hondinha 0.

Antes de voltarmos para o norte, tínhamos que tratar do assunto. “Devemos arranjar um mecânico em Porto Alegre” disse a Catarina. E era verdade. Chegámos a Porto Alegre, aldeia com duas ruas e uma rotunda composta por uma escavadora enferrujada com cabras em cima. Assim que perguntámos “Há aí algum mecânico” começamos a ouvir “Oh Nelson!!”

O Nelson aparece, com umas ferramentas na mão, mete-se debaixo do Hondinha e em dez minutos temos o carro arranjado. Nelson 1 – Estrada 1.
São Tomé é muito isto.

Dicas rápidas

Roça Água Izé: Não visitei esta Roça, mas é uma das mais bonitas de São Tomé. Se tiveres tempo durante a viagem, aconselho-te a acrescentar esta paragem ao teu roteiro.

Desova das tartarugas: A desova acontece entre Setembro e Abril, por isso se fores durante essa altura, podes sair do teu bungalow e ter este espectáculo da natureza aos teus pés.

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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