Uzbequistão

Khiva: no epicentro da rota da seda

O frio e o vento que se faziam sentir no Quirguistão empurraram-nos para o seu vizinho mais quentinho: o Uzbequistão. Esta decisão de última hora obrigou-me a preparar nalgumas horas um itinerário de cinco dias num país sobre o qual pouco (ou nada) sabia.

Valha-nos os blogues de viagens e o santo Google Maps e em menos de nada tínhamos escolhido as quatro cidades que queríamos visitar. Estava na altura de começar a marcar coisas!

Íamos aterrar em Tashkent – possivelmente a capital com o melhor nome de sempre – e nessa noite ainda tínhamos que apanhar um comboio para o lado oposto do país, Urgench, de onde seguiríamos para Khiva. Sabendo apenas que já havia poucos bilhetes de comboio disponíveis para o dia que queríamos decidimos marcar online um pouco às cegas. Resultado? Acabámos na 3ª classe do comboio, claro. E é aqui que começa a nossa aventura uzbeque.

Centro de Tashkent
Poeira, calor e as melhores crianças do mundo

Entrámos no antigo comboio soviético com uma certeza apenas: aquela ia ser a nossa casa durante as próximas 14 horas. Tínhamos a esperança de encontrar um comboio com ar-condicionado, mas as nossas esperanças desvaneceram-se assim que pusemos o pé dentro do vagão.

À medida que nos íamos aproximando das nossas camas, éramos brindados com olhares curiosos como quem diz “o que é que estes estão aqui a fazer?”. Eventualmente estes olhares foram verbalizados. Claramente os outros turistas tinham-se ficado pela classe turística.

Ao pousarmos as nossas coisas ficámos algo preocupados com as características demográficas daqueles que nos rodeavam: havia ali muita criança, mas surpreendentemente foi uma noite santa, nunca vi nada assim! Para além de tomarem conta umas das outras, assim que foram distribuídos os lençóis e cobertores, dedicaram-se a fazer as próprias camas com uma diligência digna de um mordomo de Downton Abbey. Escusado será dizer que a minha parecia um ninho de ratos.

Assim que as luzes se apagaram dei comigo a pensar “será que vou dormir alguma coisa com este calor”? Claro que sete horas depois a resposta era um óbvio sim. Nada embala como um comboio. Quando abri os olhos, ainda meio confusa, só se via areia e pó: estávamos a atravessar o vasto deserto do Uzbequitão. As últimas horas foram as mais difíceis de suportar já que as janelas tinham que estar fechadas por causa do pó, mas eventualmente chegamos a Urgench.

Se te quiseres sentir como uma estrela de rock, basta saíres de uma estação de comboios no Uzbequistão. À tua espera estarão dezenas de taxistas, a gritar por ti, a querem tocar-te. Visualizando apenas o duche da nossa guesthouse em Khiva, aceitámos o primeiro preço que nos propuseram: 9 dólares para uma viagem de 40 minutos? Siga! Se conseguiríamos 4? Muito provavelmente.

Regressar ao passado em Khiva

Depois do Quirguistão tudo no Uzbequistão nos parecia um luxo. A nossa guesthouse tinha: ar condicionado, água quente, paredes, tecto e chão… Era o paraíso. Já sem pó estavam reunidas as condições para enfrentarmos os 40º que se faziam sentir em Khiva naquele dia.

Bastou chegarmos às portas de Khiva para percebermos que estávamos perante um lugar muito especial. Esta cidade museu (Itchan Kala) conserva-se exactamente como era há centenas de anos. Nem a fome e a desidratação diminuíram a nossa vontade de percorrer cada milímetro de Khiva.

Fomos direitos ao Terrassa Cafe que, apesar de muito cobiçado ao jantar pela sua vista privilegiada sobre as muralhas e minarete Kalta-minor, estava bastante vazio ao almoço quando todas as fotos ficam em contraluz.

Tendo comprado o bilhete que nos dava acesso a todos os museus de Khiva o nosso dia foi passado a entrar e sair deles para namorar o ar condicionado e a saltar de sombra em sombra enquanto nos maravilhávamos com esta cidade de azulejos e terracota.

Como passámos menos de um dia em Khiva e o nosso plano foi feito a despachar podem ter-nos escapado algumas coisas, mas estes são os cinco sítios que eu recomendaria em Khiva:

– Juma Mosque: Esta mesquita vai contra todos os nossos estereótipos de mesquitas. A Juma Mosque é composta por 218 pilares de madeira e lembrou-me um pouco a Basílica Cisterna em Istambul.

– Watchtower ao pôr-do-sol: O topo da torre de observação de Khiva é conhecido como um dos melhores lugares em Khiva para se ver o sol a descer sobre a cidade. Pena que os espanhóis tenham sido avisados deste facto porque onde há espanhóis não há paz!

Pahlavan Mahmud Mausoleum: Este mausoléu não está incluído no preço de nenhum bilhete, mas custa menos de 2€ para entrar. Tem definitivamente os azulejos mais bonitos de Khiva.

Islam Khoja Minaret: Para além de ser muito fotogénico, este minarete é a construção mais alta em Khiva que certamente te dará uma perspectiva diferente sobre a cidade. Contudo, com 40º achámos que íamos desmaiar a meio caminho! Fica para a próxima 😉

– Khorezm Art Restaurant: Foi aqui que acabámos o nosso dia e não podíamos ter acabado melhor. Imerso numa das muitas relíquias arquitectónicas da cidade este restaurante tem boa comida, música e muitas mesas ao ar livre prontas para te ajudarem a disfrutar o fresquinho da noite.

Dicas rápidas

Transporte: Existem algumas opções para chegar a Khiva para além de uma viagemde 14 horas de comboio. Desde 2019 que existem comboios que fazem a ligação de Khiva para Bukhara. Se tiveres tempo, é uma boa opção. Estes comboios são bastante mais modernos e confortáveis do que os dinossauros soviéticos. Urgench também tem um aeroporto internacional.

Transporte local: Nós andámos sempre de táxi porque são super baratos. Se não ficares hospedado/a no centro histórico, recomendo pedires ao teu alojamento que te arranje o táxi de ida e volta porque quando saímos à noite do centro não havia táxis à vista. Convém teres a morada do teu alojamento e número de telefone contigo porque os taxistas costumam ligar-lhes a pedir indicações.

Alojamento: Nós ficámos no East Star Khiva por 9€ por pessoa com pequeno-almoço incluído. Os quartos são enormes e com boas condições. Recomendo.

Bilhetes: Existem três tipos de bilhete para entrar no centro histórico de Khiva. Preços de 2019:

VIP a 150k som (14.5€): inclui acesso a todos os museus + torre + minaretes
Standard a 100k som (9.7€): inclui acesso a todos os museus
Económico for 50k som (4.8€): inclui somente a entrada na cidade.

Nós optámos pelo standard que, pensando bem, é a pior opção. Se tiveres tempo (um dia completo no mínimo) aconselho-te a comprares o VIP, principalmente porque te dá acesso a todos os melhores miradouros sobre a cidade.

O económico também não é uma má opção porque, uma vez lá dentro, podes comprar um ou outro bilhete extra para as atracções que gostarias mesmo de ver mas que não estão incluídas. Os museus em si são muito pobrezinhos e só nos deram jeito por causa do calor.

Dinheiro: Como em todo o lado na Ásia Central, o melhor é ter sempre dinheiro, já que pagamento com cartões não é aceite em todo o lado. A maioria dos multibanco só aceita VISA.

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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