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Viajar na Ásia Central: Dicas e informações úteis

Viajar na Ásia Central é uma descoberta constante. Há poucos anos estes países eram uma completa incógnita, um trava línguas difícil. Hoje em dia os “stan” ou “istão” começam a conquistar os tops de países mais promissores para viajar, particularmente para os amantes da natureza.

Esta viagem começou por ser super planeada, daquelas com direito a folhas de Excel e tudo, e acabou por ser uma das viagens mais espontâneas que já fiz. Por um lado vimos mais um país do que tínhamos inicialmente pensado: o Uzbequistão. Por outro, acabámos por não fazer as duas grandes caminhadas que queríamos no Quirguistão, mas olhando para trás foi a melhor decisão que podíamos ter tomado.

Como corremos três países num curto espaço de tempo, decidi resumir a experiência num só post até porque há algumas características comuns a todos estes países da Ásia Central.

Ásia Central

Gastronomia

A primeira frase do Guia Lonely Planet sobre a Ásia Central é “ninguém vai à Ásia Central pela comida” o que descreve muito bem o estado das coisas. Nas capitais encontras facilmente restaurantes ocidentais com saladas, massas, pizzas, etc… mas a segunda frase do Lonely Planet devia ser “ninguém vai à Ásia Central pelas capitais”. Por isso, o que há é a comida dos yurts que se resume a dumplings e noodles (quando tens sorte) e pão seco, sopas desoladoras e compotas quando tens azar.

No Uzbequistão o cenário é algo mais animador porque as maiores atracções estão nas cidades e o Plov (arroz com vegetais e carne) e as carnes grelhadas são a norma.

Língua

Como em todos os países do mundo, acabámos sempre por conseguir comunicar o que queríamos, às vezes com a ajuda do Google, outras com gestos. O Google Tradutor já consegue traduzir imagens com texto (o que dá muito jeito em menus de restaurantes). Tanto no Cazaquistão como no Quirguistão o alfabeto é o cirílico e a maioria das pessoas fala russo. Aconselho-te a aprender algumas palavras básicas e o alfabeto para facilitar não só a comunicação, mas para também perceberes onde estás. No Youtube há umas aulas de russo espectaculares.

Como chegar

Os preços dos voos para o Quirguistão foram o motivo da nossa aterragem no Cazaquistão. Pesquisa voos para ou Almaty ou Tashkent e depois procura voos na região. As linhas aéreas tanto do Uzbequistão como do Cazaquistão são muito boas e pontuais até porque naqueles aeroportos contam-se pelos dedos das mãos os voos diários. Também podes atravessar fronteiras de autocarro ou comboio.  

Clima

Diria que o clima é o factor mais importante a considerar numa viagem à Ásia Central. Nós achávamos que tínhamos acertado em cheio na melhor altura do ano, mas o Quirguistão trocou-nos as voltas.

Almaty: A região de Almaty é extremamente fria no Inverno (com neve por tudo quanto é sítio) e extremamente quente no Verão. Nós fomos em Agosto – porque não era o nosso destino final – e apanhámos bastante calor, mas suportável. Se a tua intenção for visitar só esta zona, o fim da primavera e o início do Outono são ideais.

Quirguistão: Tal como Almaty, o Quirguistão é extremamente frio no Inverno – quando a maioria do país está soterrado de neve – e no Verão nunca é muito quente à excepção de Bishkek, a capital. Como tal, e porque o Quirguistão é unicamente um destino de natureza, a melhor altura para visitar serão os meses de Verão: fins de Junho a início de Agosto. Isto não invalida teres que levar roupa para graus negativos porque, tal como ficou provado, nunca se sabe quando é que a neve vai aparecer.

Uzbequistão: O Uzbequistão será talvez o destino mais fácil de planear porque é mais constante. Os Invernos são bastante frios, mas com dias muito limpos e certamente menos turísticos que o normal. A melhor altura para visitar é a primavera e o outono sendo que os Verões são quentíssimos. Nós fomos lá parar em Agosto e bem suámos do bigode, mas como o ar condicionado já chegou ao Uzbequistão nem sofremos muito.

Dinheiro

Como já tinha escrito neste post, o Revolut é sem dúvida o melhor cartão para viajar. Mesmo que só tenha levantamentos gratuitos até 200 euros, as taxas e comissões são muito inferiores aos bancos tradicionais. No Quirguistão e Uzbequistão há o problema de muitas máquinas multibanco só aceitarem VISA e por isso aconselho-te um cartão alternativo.

Cazaquistão

Visto: Os cidadãos portugueses não necessitam de visto de entrada para estadias que não ultrapassem os 30 dias.

À chegada, tens que preencher e entregar no controlo de passaportes um pequeno formulário (agarra um ou mais na zona de controlo e preenche na fila. Se planeares entrar e sair do país é bom ter formulários vazios extra porque na fronteira por terra é uma luta para arranjar um). Este formulário é-te devolvido com um carimbo e pela tua saudinha não o percas como eu.

Moeda e dinheiro: A moeda nacional é o Kazakh tenge. 1€ = 422.68. Em Almaty alguns restaurantes mais finos aceitam pagamento com cartão, mas a norma é pagar com dinheiro. Nós corremos inúmeras caixas multibanco antes de conseguirmos que uma funcionasse, mas elas existem! Também aconselho levares algum dinheiro (dólares americanos de preferência) porque para pagar tours, por exemplo, eles aceitam.

Transportes: Dentro das cidades a melhor forma de te deslocares é de Táxi. A app que recomendo para o fazeres é a Yandex que funciona como o Uber e até podes pagar com cartão. O preço de uma viagem do Aeroporto para o centro são cerca de 5 ou 6 euros e viagens dentro da cidade em si, cerca de 2. Se não tiveres internet um táxi para o centro não te deverá custar mais de 10 dólares.

Para a viagem Alamty – Bishkek apanhámos um táxi partilhado a partir da estação de Autocarros de Almaty. Assim que chegámos fomos abordados por outros dois turistas que já tinham andado a negociar com um taxista e precisavam de mais pessoas para encher o táxi. Nós aceitámos e 15 minutos depois já tínhamos outros três ou quatro polacos connosco e partimos assim que o táxi encheu. A viagem (que dura cerca de cinco horas) custou-nos uns 6 ou 7€ a cada.

Alojamento: Os hostels em Almaty estão longe de ser os melhores do mundo, mas safam-se. Na primeira vez que estivemos na cidade ficámos no Almaty Backpackers que tem sem dúvida um grande ambiente, mas tem o grave problema de só ter duas casas de banho para imensa gente.

Da segunda vez ficámos num hostel mais moderno, onde as condições eram melhores, mas sem personalidade nenhuma, que ironicamente se chamava Soul Hostel. Os quartos privados valem muito a pena.

Tour: Como tínhamos pouco tempo no sul do Cazaquistão optámos por fazer uma tour através do hostel Almaty Backpackers que permite aos hóspedes juntarem-se a tours tornando o preço mais baixo. Aconselho-te a deixar a marcação da tour para a última hora porque em princípio o preço será mais baixo e como em todo o lado na Ásia “cabe sempre mais um”.

Almaty: Almaty é uma cidade surpreendentemente moderna, desenvolvida e limpa – apesar de ter visto uma vaquita a atravessar a estrada no caminho do aeroporto. Durante uma tarde visitámos o Zelenyy Bazar, a Catedral da Ascenção no Parque Panfilov, o parque do Primeiro Presidente, a rua Zhybek-Zholy que está cheia de cafés, bares e restaurantes e o Central Park. 

Quirguistão

Visto: Não é necessário visto para cidadãos portugueses.  

Moeda e dinheiro: 1€ = 77.5 Kyrgyz Som. É fácil de trocar dinheiro em Bishkek, nós fizemo-lo logo na estação de autocarros quando chegámos – onde também podes comprar um cartão SIM. Só vais encontrar multibancos nas maiores cidades do país (como Naryn, Osh ou Karakol) por isso mais vale abastecer em Bishkek. Tenta não sair do país com dinheiro Quirguiz porque vai ser quase impossível de trocar.

Transporte: A aplicação Yandex também funciona em Bishkek e é a melhor opção para deslocações dentro a cidade. Para viajar no Quirguistão as marshrutkas são o segredo. Estes mini autocarros de 20 lugares vão para todos os cantos do país assim que enchem e são a forma mais barata de viajar. Podes apanhá-las nas estações de autocarro de cada cidade e apesar de não serem particularmente confortáveis acho que são a melhor opção.

Bishkek a Naryn: 5 horas, cerca de 4 euros por pessoa
Naryn a Kochkor (taxi partilhado): 2 horas, cerca de 4 euros por pessoa
Kochkor a Bishkek: 3 horas, cerca de 3 euros por pessoa
Bishkek a Almaty: 5 horas, cerca de 4 euros por pessoa

CBT: traduz-se em Community Based Tourism e consiste em centros turísticos, espalhados por todo o país, que organizam tours, caminhadas e passeios para viajantes. Nós só usámos o de Naryn e correu tudo às mil maravilhas. Podes ler mais sobre o CBT aqui.

Bishkek: Se há coisas boas deixadas pela União Soviética foram cidades bem planeadas e com espaços verdes. No caso de Bishkek há a enorme praça Ala-Too com museus, teatros e edifícios governamentais. Também podes optar por fazer a “tour do comunismo” e picar o ponto em todas as estátuas do Lenin, Marx e outros amigos desses tempos.

Nós vimo-nos no meio de uma feira popular e como não tínhamos nada para fazer decidimos ir dar uma voltinha ao “Bishkek-eye” a grande roda de Bishkek!

Bishkek também é um bom porto de partida para day trips: para o Ala-Archa National Park, Konorchek Canyon, Burana Tower e até o sanatório soviético em Issyk-Ata.

Alojamento: Foi em Bishkek que ficámos num dos melhores hostels que já vi. Fomos parar ao hostel Freelander por recomendação de um viajante e era espectacular tanto a nível de instalações, como de limpeza e de simpatia. No resto das cidades o alojamento mais comum são as guest houses e no campo os yurts.

Itinerário: Apesar de não termos cumprido nada do meu itinerário inicial continuo a achar que era um grande itinerário e por isso deixo-o aqui:

Bishkek: 1 dia
Karakol: 1 dia  
Caminhada até ao lago Ala-Kul: 3 dias
Karakol até Kochkor: 1 dia
Caminhada até ao lago Song Kol: 3 dias
Kochkor até Naryn: 1 dia
Tash Rabat e Kol Suu: 2 dias

Uzbequistão

Visto: Desde 2019 que não é preciso visto para o Uzbequistão para estadias inferiores a 30 dias. O país está a fazer um esforço enorme para dinamizar o turismo e o acesso está muito facilitado.

Moeda e dinheiro: 1€ = 10555 Uzbek Som. No Uzbequistão é mais fácil encontrar caixas multibanco, mas 99% só aceita cartões Visa e nem sempre têm muito dinheiro disponível.

Transporte: Em Tashkent, tal como em Almaty e Bishkek, podes usar a app Yandex para chamar taxis. Se no aeroporto os taxistas te disserem que os Yandex não têm autorização para entrar na área do aeroporto é mentira.

Já para andar pelo país fora os comboios são a melhor opção. Nós conseguimos marcar online o comboio de Tashkent para Urgench mas claro que fomos parar à terceira classe. A melhor opção será ver os horários na internet e depois levar escrito num papel os comboios que queres comprar (origem, destino e hora) e apresentar esse papel ao balcão na estação de Tashken para facilitar a comunicação. Podes encontrar os horários dos comboios aqui.

A estação de Tashkent tem um sistema de senhas que não funciona e por isso tens que ir lá para o molho lutar para ser atendido.  

Alojamento: Os standards de alojamento no Uzbequistão são muito superiores aos dos países anteriores e os preços são particularmente bons para quem viaja com um ou dois amigos e pode partilhar quarto. Por 8€ por pessoa é normal ter um quarto com ar condicionado, casa de banho e pequeno-almoço incluído.

Polícia Turística: Com os esforços para tornar o país mais atractivo para o turismo, o Uzbequistão pôs nas ruas um grande número de polícias que falam inglês e estão disponíveis para ajudar. E se dantes eles eram conhecidos pela sua corrupção, agora há um esforço consciente para o evitar a todos os custos, especialmente com turistas.

Itinerário: Este itinerário foi feito um bocadinho em cima do joelho, mas até nem nos saímos mal para quatro dias.

Tashkent – 1 dia
Khiva – 1 dia
Bukhara – 1 dia
Samarkand – 1 dia

Se tivesse tido tempo, incluiria o mar Aral!

Tashkent

De todas as cidades da Ásia Central, Tashkent foi aquela onde passámos mais tempo e foi definitivamente a minha preferida. O seu metro é uma versão mais pequena e económica do metro de Moscovo e um dos pontos mais interessantes da cidade. Foi apenas em 2018 que começou a ser permitido fotografar as estações de metro e a partir de então mais turistas visitam esta “atracção”.

O bilhete de metro só custa 14 cêntimos e por esse valor podes ver todas a estações do metro! Algumas das mais interessantes são: Novza, Pakhtakhor, Mustaqilik Maydoni, Oybek, Toshkent, Alisher Navoi E Kosmonavtlar. A maioria das estações representa momentos ou figuras importantes da cultura Uzbeque.

Já fora do subsolo andámos pelo Chorsu Bazaar, Praça Amir Timur, Hotel Uzbekistan e Feira do Livro (book bazaar). Como estivemos sempre em Tashkent entre viagens, não tivemos oportunidade de ver as suas mesquitas que são muito conhecidas.

Espero que estas duas mil e duzentas palavras te tenham incentivado a tornar a Ásia Central num dos teus destinos futuros. É uma região surpreendente com muito mais para dar do que imaginamos.

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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