Gullfoss iceland islandia
Islândia

O reluzente Golden Circle

Até então tínhamos visto a Islândia das estradas desertas, cavalos selvagens e parques de estacionamento meio vazios. Ao dia três tudo estava prestes a mudar porque íamos visitar o “Golden Circle”.

A poucos quilómetros de Reykjavík, este “círculo” está mesmo à mão e combina três das mais conhecidas atracções da Islândia que são completamente diferentes entre si: o Þingvellir National Park, o Geysir e a Gullfoss.

Um pouco a medo, pois os charters de chineses do Golden Circle são lendários, seguimos em direcção ao Þingvellir National Park. Para nossa surpresa, e desilusão dos que apregoam o apocalipse turístico na Islândia, não foi assim tão mau! Em toda a Islândia só enfrentámos bichas para a casa de banho das mulheres…

Ah, e este Círculo Dourado é-lo por uma razão: aqui, tudo o que reluz, é mesmo ouro.

Þingvellir National Park: a alma da Islândia

Sempre me perguntei por que é que este parque nacional era um marco na Islândia. Pelas fotografias parecia-me pouco mais do que um aglomerado de pedras cinzentonas e sem graça… mas é exactamente o oposto. É um fenómeno geológico, histórico e político com muito mais para contar do que aquilo que possamos pensar.

Há mais de um milhar de anos, foi aqui que surgiu um dos primeiros conceitos de parlamento. Chefes de todos clãs islandeses reunir-se-iam anualmente neste parque, a partir de 930 AD, para discutir, julgar criminosos e fazer o belo do networking.

Nesta altura, estes chefes provavelmente ainda não sabiam que a sua sala de reuniões era o único lugar do mundo onde a fenda das placas tectónicas está acima do nível das águas do mar e, consequentemente, o único lugar onde nós podemos andar entre elas.

De um lado temos a placa América do Norte e do outro a placa Eurasia, que todos anos acolhem centenas de milhares de visitantes que rezam para que elas não se decidam voltar a juntar naquele momento.

Como se tudo isto não bastasse, o parque é muito mais “do que umas rochas”. Tem cascatas, igrejas, lagos e uma das águas mais cristalinas do mundo onde podes fazer snorkeling ou mergulho (à fantástica temperatura de 4 graus em dias bons) na ravina de Silfra com uma visibilidade até 100 metros.

Pela sua relevância histórica, o parque Þingvellir é o único “monumento” na Islândia listado como Património da UNESCO.

Geysir (Strokkur): a explosão dos 15 minutos 

A magia de vermos algo pela primeira vez é inexplicável, e acho que essa a razão pela qual este geysir é tão popular. À sua volta, dezenas de adultos reúnem-se com um brilho nos olhos como uma criança que espera pelo Pai Natal.

As máquinas fotográficas estão todas a postos e o geysir vai brincando com as nossas expectativas num “vai não vai” até que vai mesmo e se ouve um “aaaaaah” conjunto.

O Geysir “explode” com bastante frequência sendo que algumas explosões são mais potentes que outras. Nós reparámos que mais ou menos de 15 em 15 minutos há uma grande (até  40 metros) intercalada por outras menos espampanantes.

Este complexo geotermal vai além do geysir, com piscinas termais de um azul garrido fascinante e uma caminhada a pique que já não nos apeteceu fazer!

Gullfoss: a toda poderosa

Já tínhamos visto o potencial da força das cascatas da Islândia na Godafoss, mas a Gullfoss tem outro nível. A água, vinda dos glaciares Langjökull, corre com uma força tal que os seus salpicos quase nos dão um banho. Ao mesmo tempo, quando o sol bate, há arco-íris que se formam no ar.

De baixo, de cima ou de lado, todas as perspectivas são magníficas e não podia haver melhor forma de fechar este círculo.

O passeio da noite sem noite

Se há tradição na nossa família é o “passeiozinho a seguir ao jantar”. Nos dois dias anteriores, este passeio foi facilmente ignorado, já que os ventos cortantes a 2 graus nos davam uma desculpa para ficar no quentinho do nosso apartamento. Mas desta vez estávamos em Laugarvatn, um lago com piscinas geotermais rodeado por encostas que nos protegiam do vento. Estava na hora do passeio!

Em Laugarvatan tudo é calma e tranquilidade, nada mexe e nada se ouve. À beira do lago, nuvens de fumo e um cheiro a enxofre anunciam que, por baixo dos nossos pés, a terra respira e se escavarmos a superfície arenosa com um colher, rapidamente percebemos que nos podemos tornar num cozido se não tivermos cuidado.

E a Islândia é muito isto: uma superfície de paisagens arrebatadoras, muitas vezes só para ti e um interior em ebulição que sabe-se lá quando é que vai rebentar!

Dicas rápidas

Alojamento: Os Golden Circle Apartments em Laugarvatn são fantásticos, com óptimas condições para cozinhar e numa localização espectacular para quem visita o Golden Circle.

Estacionamento Þingvellir: Havia uma fila desnecessariamente grande para pagar o parque de estacionamento, porque ninguém percebeu que havia mais do que uma caixa para pagar. Claro que sendo portugueses, nós percebemos logo e despachamo-nos num instantinho. Para pagar precisas de cartão (não há cá dinheiro para ninguém) e da matrícula do carro. Custa cerca de 5€.

Evitar as massas: O Golden Circle é a região mais visitada da Islândia o que significa que há montes de autocarros a chegar a sair a toda a hora. Quando chegámos ao Þingvellir, que costuma ser a primeira paragem do círculo (pelas 11 da manhã) estava cheio. Quando saímos (à uma da tarde) estava vazio. E a partir daí nunca apanhámos grandes enchentes porque já estávamos atrasados relativamente às horas das tours. Ou seja, o meu conselho é: ou fazer a rota ao contrário ou começar mais tarde de forma a não colidir com a maioria das pessoas.

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

One Comment

Leave a Reply

%d bloggers like this: