Call for Inspiration

Nomad e uma entrevista que nunca mais saía

Há três anos fazia parte do jornal de marketing do ISCTE, o SOM. Como gostava da parte das entrevistas e de encontrar pessoas que pudessem ter algo a dizer e a ensinar-nos e já tinha o meu gostinho por viagens bem apurado escolhi o Inácio Roseira como um dos entrevistados. O Inácio trabalhava na Nomad e conheci-o numa pequena palestra que ele deu no ISCTE sobre o seu estilo de viajar e sobre a Nomad. Fiquei encantada. Na altura não me passava pela cabeça que havia pessoas que de facto viviam a viajar.

Quando contactei o Inácio a disponibilidade foi imediata e a entrevista resultou num artigo de três páginas que considero muito inspirador. Infelizmente, sendo um jornal redigido e editado por boa vontade de estudantes, esta edição nunca chegou a ser publicada. Como isso sempre me ficou atravessado, publico aqui a entrevista por que acho que vale muito a pena ser lida 🙂

Nomad: Entrevista com Inácio Rozeira

A Nomad, por definição, é uma agência de viagens portuguesa. Mas, na verdade, é bem mais do que o que temos por conceito de “agência de viagens”.  A Nomad proporciona a descoberta de novas culturas e pessoas ao longo das viagens, indo além do mero turismo e dos resorts de luxo.

Tudo isto só é possível devido à equipa de “líderes Nomad” as pessoas que dirigem as viagens, trabalhando em conjunto com guias locais para que toda a experiência possa ser o mais autêntica possível.

Um grande obrigado ao líder Nomad Inácio Rozeira, por se ter mostrado tão recetivo a colaborar com esta inspiradora entrevista que, sem dúvida, te fará refletir.

Quais as 4 palavras que melhor definem a Nomad?

Um sentimento e uma maneira de estar podem ser indefiníveis. É uma coisa que se sente mas, neste caso, acho que poderia definir o espírito Nomad com curiosidade, desassossego, audácia e desafio.

Quais são os factores que fazem com que a Nomad tenha sucesso face às agências de viagem tradicionais?

Eu acho que a Nomad chegou ao mercado com uma postura diferente e com um produto diferente. O seu sucesso está associado a muito empenho e profissionalismo mas, acima de tudo, acho que posso dizer que na Nomad ninguém espera sair mais rico materialmente. É uma agência que se especializou em proporcionar experiências de vida fantásticas e únicas, a quem tem pouco tempo (os nossos viajantes) e um estilo de vida instável e curioso aos seus colaboradores. Todos os que trabalhamos na Nomad procuramos isso. Uma vida de sonhos, objectivos aparentemente inalcançáveis e uma maneira de estar na vida desprendida é o que procuramos. Isso é o que o espírito Nomad nos proporciona a todos nós. Com essa insegurança, nós vivemos bem. Porque é isso que queremos.

 Fazem algum tipo de comunicação em media especializados, como sites ou revistas de viagens?

A Nomad acredita muito nos seus produtos e numa comunicação genuína nas plataformas online. A Nomad está verdadeiramente empenhada em contar histórias genuínas de pessoas que sejam inspiradoras para que as pessoas se possam desprender e lançar-se em novos desafios. A comunicação baseia-se essencialmente nessa realidade que a equipa tem. Poder contá-la da melhor forma, com a maior exigência técnica de imagem ou de escrita é o grande objectivo presente. Há muito tempo que abandonamos os meios de comunicação tradicionais e preferimos falar directamente com as pessoas através das redes sociais.
Quão importante é o word of mouth e o conselho de conhecidos numa indústria como o turismo?
Ninguém acredita que a Índia é uma fusão de cores e cheiros se vir um cartaz na rua. É preciso ir lá, sentir, ver e contar. Nós acreditamos que, quando cada um dos nossos viajantes conta uma das suas histórias de viagem (e têm muitas) desafiam mais um amigo a juntar-se à nossa comunidade. Nós não queremos que ninguém nos recomende porque acha que nós somos diferentes. Nós queremos que falem das suas experiências únicas e que as pessoas se sintam diferentes. E se a Nomad conseguir proporcionar isso, então muitos outros se vão interessar em juntar a esta grande família.

 

Quais os destinos e tipo de viagens mais procurados? Têm registado alguma diferença nessa procura ao longo dos últimos anos?

As viagens com mais contacto cultural são as que as pessoas procuram mais. As pessoas estão cansadas de viajar em camionetas de luxo e de sentir a rua através de um vidro. As pessoas querem falar e sentir as comunidades locais abraçando-as, sentindo as suas alegrias e vivendo as suas tradições de uma forma genuína. Para isso é preciso colocarmo-nos ao mesmo nível das pessoas que visitamos e com quem contactamos. Sendo assim, as viagens com mais sucesso da Nomad, desde o início, têm sido viagens intensas e desgastantes por locais como a Índia, o Laos ou o Irão. Há também a procura pelos ambientes naturais, em que as pessoas nos procuram para viagens de trekking para lugares como a Patagónia ou o Nepal, onde só podemos chegar realmente se formos a pé. Mas também aí nos colocamos ao nível das comunidades locais e deixamos que a interacção cultural se faça de forma genuína.

Quais as características de um líder Nomad? O que é que está por trás da vossa vontade de viajar?

Os líderes Nomad são pessoas curiosas e apaixonadas pelo que fazem. Com uma necessidade brutal de conhecer os recantos das cidades e de poder partilhar essas histórias. São pessoas que não procuram um sofá para viver e preferem um banco desconfortável de uma camioneta para passar uma noite mal dormida cheia de aventuras para partilhar. São incansáveis buscadores de histórias exóticas que querem partilhar. Não são pessoas diferentes. São pessoas comuns que decidiram que é mais apaixonante viver na incógnita de onde se vai dormir ou comer com a certeza que todos os dias são uma novidade. São pessoas como todos os outros que tiveram a coragem (ou a inocência ou inconsciência) de viver no desassossego.


Quais as experiências mais marcantes que já viveram nas viagens?

Pelos outros não posso falar mas, durante as minhas viagens, já perdi comboios na Índia, já me cortaram a estrada e furaram os 4 pneus duma carrinha nos andes peruanos, já estive para não visitar o Machu Picchu porque a linha de comboio foi cortada, já estive em casamentos incas no Lago Titicaca, já estive numa barraca a partilhar em família a véspera de um casamento indiano e já viajei 14h num comboio sobrelotado (30 pessoas numa cabine de 6) na Índia. Sei lá. Há centenas de momentos marcantes. Felizmente, todos eles vivi-os com grupos de viajantes excepcionais que aceitaram os desafios da Nomad.
Uma vez que este jornal é lido maioritariamente por estudantes universitários com poucos recursos económicos, quais são as dicas mais importantes que têm a dar para quem quer viajar?

Eu não tenho nada a ensinar. Durante a minha vida, tive a sorte de descobrir o que gostava e de a Nomad me proporcionar fazer exactamente isso. Acho que a única coisa difícil na vida é encontrar tempo para fazer tudo com que sonhamos. Sendo que estou a falar para estudantes só posso dizer que, neste momento das suas vidas, tempo é o que não lhes falta. Tirem um ano, viagem e vão perceber que vão aprender muito mais do que qualquer universidade vos poderá ensinar.


Quão realista é querer ter a profissão de viajante? 

O primeiro passo é perceber que ser viajante pode ser uma profissão. Neste momento a sociedade ainda não percebeu isso. O viajante é alguém desapegado, instável e que, de nenhuma forma, poderá contribuir para o bem comum. Com a Nomad no mercado a profissão passou a existir e o sonho passou a ser alcançável para alguns. Escolher ser um viajante profissional é algo perfeitamente alcançável. Não é preciso conhecer todos os cantos do mundo para poder ser um bom viajante. Se conseguirmos mostrar aos nossos amigos os cantos mais incríveis do nosso quarteirão então conseguimos desenvolver uma capacidade de descoberta e de partilha. Ser viajante é isso. É ser curioso e não viajar para dentro. Temos de descobrir para partilhar. Guardar os melhores segredos dos locais que conhecemos não é viajar. É ter um momento de superação individual e de poder que nada serve em função dos outros. Apenas alimenta o nosso ego. Se fazer disso profissão é possível? Sem dúvida que sim. No mercado de trabalho não há muitos viajantes, assim como não há filósofos ou astronautas. Em todo o caso, perseguir e alcançar um sonho é algo que não tem custo. E isso, todos deveríamos ter o direito de fazê-lo pelo menos uma vez na vida.

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

2 Comments

  • Jose Matos

    Olá Inês,estive a tirar dicas do escreveste a cerca da tua viagem á Tanzânia….muito útil, tudo facilitado da maneira que é exposto, parabéns.No final vi o amigo Inácio que me levou a dar uma volta na Índia daquelas que valeu a pena…Parabéns pelo teu trabalho.

    • Inês Amaral

      Muito obrigada José! A Tanzânia é um país incrível, espero que goste!
      Quanto à Índia, está na minha lista!

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