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O Interrail e a sede de descobrir

Acho que um Interrail é algo que nunca se esquece, muito menos quando é a primeira vez que estamos um mês fora de casa a viajar. E assim foi, no Verão dos meus 18 anos (2012), fiz um Interrail que ainda recordo como uma das melhores viagens que fiz. Foi um mês de primeiras vezes, cheio de aventuras e momentos de “desenrascanço”. Em 3 dias já sabia ler mapas, já travava amizades com pessoas dos 4 cantos do mundo e começava a perceber que aquela viagem era só o início.

Corremos 8 países em 24 dias (Itália, Eslovénia, Áustria, Hungria, Polónia, República Checa, Alemanha e França), milhares de quilómetros de comboio, autocarro e avião.

Como o melhor das viagens são sempre as parvoíces que se passaram, aqui vão alguns excertos do Diário de Bordo com os melhores momentos.

Deixados no meio do nada

“Às 20:30 chegou o autocarro que levava três pessoas que saíram muito antes de nós. Por volta das 21:00 o senhor motorista decidiu parar no meio do nada, acenar como que diz “aguentem-se aí” e procedeu a desaparecer durante dez minutos. “

Acho que esta frase não revela o ridículo da situação. Isto aconteceu-nos no primeiro dia no caminho de Jesenice para Bled, na Eslovénia. Estávamos muito bem num autocarro vazio em direcção a Bled quando o motorista decide parar no meio da Eslovénia rural para ir fazer alguma coisa aos bosques! Claro que depois nos fartámos de rir disto, mas durante 10 minutos pensámos “será que alguma vez ele vai voltar??”

Simpatia alheia

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(qualidade de um Nokia de 2010)

“Entretanto chegou um novo colega de quarto de Essex que tinha dois amigos e convidou-nos para jantar com eles, sendo que quem cozinhou foi estudante de culinária do grupo. Comemos um esparguete à Carbonara que nos soube pela vida (principalmente porque foi oferecido!)”

Foi neste momento comecei a perceber que o mundo está cheio de pessoas fixes e que gostam de partilhar. Deve ter sido a primeira vez que me sentei à mesa com pessoas de outros países a conversar sobre sei lá o quê. No fim da noite éramos um grupo de 6 ou 7 pessoas de 3 nacionalidades diferentes a jogar Jenga. Perfeito 😀

 

Choque Cultural

Chegámos ao hostel por volta das 22:20 e no quarto encontramos dois sul coreanos. Com algum inglês e muitos gestos lá conseguimos falar um bocado e saber que ele conhecia o Cristiano Ronaldo (claro…).

De toda a viagem, este foi o único momento em que convivemos com pessoas de uma cultura bem diferente da nossa. Quando disse que já tinha ouvido falar de Seoul e que tinha uma amiga que ouvia K-Pop quase me fizeram uma vénia. Os sul coreanos que conhecemos eram muito humildes e apesar da barreira linguística, muito simpáticos e interessados. Não conseguiram aceitar que eu e o meu amigo (com quem fiz o inter) não éramos namorados, apesar de lhes termos dito isso mil vezes!

Nada melhor como desenrascar quando é preciso pôr a roupa a lavar!

“Agora está na hora de lavar a roupa com soflan no lavatório!”

Acho que esta frase se explica a si mesma. Soflan é detergente, lavatório é a máquina e o beliche, cadeiras e tudo o que dê para pendurar é o estendal. Done!

Esta é mesmo à Tuga…

“Depois de muitas voltas fomos almoçar, custa-me dizer, uma lasanha já feita. Mas temos feito comida todos os dias e a seguir comemos uma peça de fruta por isso vou achar que não é assim tão mau! “

Fartei-me de rir quando reli isto. Uma pessoa que se sente mal por comer comida já feita quando está em viagem só pode ser portuguesa. Em geral, faço tudo para não comer comida processada, mas em viagem não se pode ter tudo. Ao menos ficam a saber que quem viaja comigo fica bem alimentado :p

Éramos tão xoninhas…

“Eles seguiram para o Pub Crawl e nós como tínhamos que acordar muito cedo ficamos no hostel para, no dia seguinte, tentarmos mais uma vez a sorte no parlamento.”

Isto era no seguimento de um jantar de grupo organizado no hostel. Lembram-se do texto dos xoninhas? Pois, é isso.

O hostel de Praga

“Entretanto o P. tem pesadelos com a decoração do hostel, apesar de não ser assim tão má, até porque já estivemos uns 30 minutos sem parar de rir por causa disto.”

Acho que ninguém está preparado para o que se passa neste hostel (não me lembro do nome). Entre paredes a fingir que são florestas, casas para passarinhos falsos e esquilos embalsamados, não havia canto para que olhássemos que não tivesse um detalhe entre o aterrador e o hilariante.

sempre à espreita…

Esta é mesmo à Tuga (2)

“Uma coisa que nos tem acompanhado ao longo desta viagem é o magnífico alho e cebola. Claro que em cada hostel porque passamos deixamos um cheiro tradicional português…”

Já tinha ficado claro que com a comida não se brinca. Nem com o preço do alho no estrangeiro! Por isso, à bom português, que quer uma comida reconfortante quando chega de um árduo dia de passeio (e podem-me explicar como se faz um bom refugado sem alho e cebola? ) decidimos fazer-nos acompanhar pelos nossos bens mais valiosos, de país para país e de hostel para hostel. Boa vizinhança é connosco!

E foi basicamente isto! Também nos aconteceu termos que ir sentados no chão de um comboio porque não havia espaço disponível ou atravessarmos um sinal vermelho em Berlim e olharem para nós como se fossemos criminosos… entre muitas outras coisas que fizeram desta viagem algo tão memorável.  Acho que foi depois de voltar desta viagem que comecei a pensar que ainda me faltava ver o resto do mundo todo e que começou a saga incansável de planear viagens e de descobrir como podia passar mais tempo lá fora.

E acredita, descobri 😉

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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