Escócia,  Reino Unido

Fort William: montanhas, vales, lagos e praias aos teus (cansados) pés

Três. anos. desde. a. última. viagem. a. solo. Peço desculpa pela pontuação excessiva, mas neste caso justifica-se. Entre viagens com amigos, para ver a família e pandemias, as oportunidades para viajar sozinha não têm sido muitas.

A ideia de uma semana de caminhada na Escócia surgiu depois de vários meses de trabalho intenso e de horas extraordinárias que culminaram numa acumulação de folgas suficientes para me desligar dos emails e zooms durante algum tempo.

Ao contrário dos meus itinerários habituais, decidi parar mais tempo em cada sítio e só ficar a dormir em Fort William e Isle of Skye. Passaram-se oito anos desde a última vez que visitei estes lugares, mas desta vez queria percorrê-los pelos meus próprios pés e “conquistá-los”.

Fort William é uma excelente base de operações para quem quer explorar as Highlands escocesas. No sopé do Ben Nevis, a montanha mais alta do Reino Unido (também são só 1,345 metros), está esta pequena vila – grande para os standards escoceses – que satisfaz todo o tipo de aventureiros.


Cheguei a Fort William já tarde depois de uma longa viagem de carro que começou às 4:30 da manhã e de uma primeira caminhada de treze quilómetros. Meia hora depois de sair do autocarro já estava em casa de uma couchsurfer a jantar uma refeição feita com ingredientes resgatados do caixote do lixo do M&S que me soube pela vida. Ah, a beleza de viajar sozinha!

Faltava-me apenas repôr as horas de sonos em falta até porque para os próximos dias estavam planeadas inúmeras caminhadas e até uma viagem no Hogwarts Express!


Da Plataforma 9¾ até Mallaig

No segundo filme do Harry Potter, no meio daquela acção toda de conduzir um carro voador descontrolado, está o Glenfinnan Viaduct. Sendo um dos pontos mais icónicos da região, já o tinha visitado mas “por baixo”. Agora, estava na altura de ter a experiência mágica e embarcar no Hogwarts Express, ou como dizem os muggles, o comboio que liga Fort William a Mallaig.

Esta viagem de comboio pode ter sido popularizada pelos filmes do feiticeiro mais famoso do mundo, mas a verdade é que já era considerada uma das viagens de comboio mais bonitas que há. Em menos de três horas somos transportados das montanhas até a praias com água cristalina azul e verde e areia branca. No caminho passamos por desfiladeiros, vales, lagos e claro aquedutos.

Já em Mallaig, uma hora deu-me para fazer um curto trilho à volta da aldeia e comer uma dose de Fish & Chips incrível com uma cerveja à beira mar. Quando uma hippie da Lituânia te recomenda comer Fish & Chips de tamboril, é seguir o conselho! The Cabin Restaurant é fantástico.


Ben Nevis: Acordar cedo e cedo erguer dá saúde e faz chover

Subir ao Ben Nevis está na lista de todos os caminhantes que viajam até à Escócia, mas tem um senão: o tempo. Como já é habitual nas montanhas, ora há sol, ora há vento, ora há chuva e tudo num espaço de cinco minutos.

A previsão metereológica estava longe de ser animadora, mas havia a possibilidade de só começar a chover às 11 da manhã e como às cinco já estava a sair de casa, tinha esperança. Quando cheguei à base do Ben (já somos amigos) pairavam por ali umas nuvens cinzentas pouco promissoras, mas lá fui.

As primeiras duas horas, ou seja, metade do caminho, fizeram-se relativamente sem contratempos e a paisagem era maravilhosa como já era de esperar. Afinal, é por isso que as pessoas sobem às montanhas!

Contudo, do nada a visibilidade ficou reduzida a menos de um metro e a chuva e o vento tomaram conta da situação. Não era naquele dia que ia chegar ao cumo do Ben Nevis. Até hoje me pergunto o que é que os malucos que continuavam a subir quando eu já estava a descer tinham na cabeça. Sete horas de caminhada à chuva, vento e sem ver nada não me parece nada apetecível!

O resto do dia foi passado a passear por Fort William – até às ruínas do Old Inverlochy Castle – depois de um banho bem quente. Encontrei um café amoroso com óptima comida e uma padaria com pão a sério! Comprei um pão gigante que me acompanhou no resto da viagem e que tornou o meu consumo excessivo de sandes em algo bem mais agradável.

A próxima paragem era aquela que eu mais aguardava: a Isle of Skye!


Dicas rápidas

Transporte nas Highlands Escocesas: Uma das minhas maiores preocupações antes de viajar para as Highlands era como é que me haveria de deslocar. Estou farta de ir até Edimburgo de comboio, mas as ligações ferroviárias ao norte não são tão extensas estava com algum receio de que fosse preciso alugar carro. Mas não! Apesar de não haver autocarros e comboios a toda a hora, há oferta suficiente para fazer os percursos mais comuns.

Citylink: A CityLink oferece ligações entre as principais cidades escocesas e também pontos turísticos. Eles oferecem um passe muito simpático chamado “Explorer Pass” que podes encontrar e comprar neste site. Semelhante aos passes de Interrail e Flixbus, esta oferta deixa-te andar nos autocarros que quiseres durante os dias estipulados por um preço fixo. Compensa muito especialmente em viagens longas (superiores a duas horas).

Comer em Fort William: Café e restaurante The Geographer que tem pratos vegetarianos para além dos “clássicos” ingleses e a Rain Bakery, para pão verdadeiro.

The Jacobite Steam Train: O nome verdadeiro do “comboio do Harry Potter”. A viagem custa cerca de cinquenta pounds (ida e volta) com uma hora de pausa em Mallaig. Se quiseres uma opção mais em conta podes comprar os bilhetes para um comboio normal, a maior diferença é que nesses comboios as janelas não abrem e é mais difícil tirar fotografias decentes da viagem. Podes reservar os teus bilhetes aqui.

Outras caminhadas: A Cow Hill é uma caminhada circular de dez quilómetros com umas belas vistas sobre Fort William, caso tenhas tempo. Também era para ter ido a Glencoe, que é absolutamente estonteante, para outra caminhada (Pap of Glencoe) mas mais uma vez o tempo não colaborou.


Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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