Restrições e quarentenas levantadas, estava na altura de voltar a viver e não há melhor lugar para o fazer do que Paris. Acho que posso admitir que estou, desde sempre, viciada nesta cidade que não me canso de repetir. Desta vez decidi fazer uma visita despida de quaisquer pretensões turísticas; uma visita para rever amigos e a cidade a que já chamei de casa.
O que encontrei foi uma cidade a despertar do coma induzido que foram os últimos meses. Contudo os Parisienses sabem aproveitar a vida como ninguém e os parques e esplanadas enchiam-se de amigos e famílias à procura de reencontrar alguma normalidade.
Pela primeira vez desde que conheço Paris a língua que mais ouvi foi o francês. As ruas, habitualmente inundadas por hordas de turistas, estavam agora calmas e serenas como se não pertencessem à cidade mais visitada do mundo. Paris estava à espera de ser redescoberta, agora pelos seus próprios habitantes.
Em busca das ruas mais fotogénicas de Paris
Ao contrário do que é habitual nas minhas viagens, este fim-de-semana foi passado sem horários, planos ou pressas. Acordámos tarde, em Pantin, e fomos até ao mercado local onde comprámos ingredientes para um piquenique no parque. De baguete, queijo e vinho na mão, não foi difícil de me voltar a sentir Parisiense.
O nosso primeiro destino foi o curioso Parc des Buttes-Chaumont que para além de parecer uma meca dos piqueniqueiros, tem uma enorme formação rochosa de 50 metros plantada no meio de um lago. Ao sol, comemos o nosso banquete, passámos pelas brasas e celebrámos aquelas pequenas liberdades.
Como já conhecíamos os lugares turísticos de Paris de ginjeira, optámos por ir ver o que ainda não tínhamos visto. Com a ajuda de blogs franceses acabámos por encontrar algumas das mais bonitas e escondidas ruas de Paris, todas concentradas à volta da Place de la Bastille. São elas: Cour Damouye, Passage Lhomme e Rue Crémieux. Na Rue Charonne, mesmo ao pé da Passage Lhomme são mais que muitos os cafés e restaurantes para um brunch tardio. Até há um restaurante Cabo-Verdiano!
Por fim, subimos até ao Coulée Verte René-Dumont, um género de passadiço urbano situado na infra-estrutura obsoleta de uma antiga linha de comboio. Este percurso verdejante de quase cinco quilómetros leva-te pelo meio de prédios e dá-te uma visão diferente de Paris.
Uma madeleine, um couscous e um ramen
Já cansada dos quilómetros infinitos que a fiz andar, a minha amiga Apo sugeriu irmos até a um bar beber um cocktail durante a maravilhosa hora do “Apero” também conhecida como “Happy Hour”. O cocktail que ela me queria fazer provar chamava-se Madeleine e só ao beber o primeiro trago é que percebi que o nome vinha do bolo! Sabia exactamente a uma madalena. O bar chama-se Le 138 e se adoras madalenas ou preços baixos é uma óptima opção!
Já ao anoitecer estava na altura de mais um reencontro, desta vez com um amigo tunisino que já não via há cinco anos. Já que de momento não podemos ir à Tunísia, fomos a um restaurante em Belleville chamado Tunis Tunis onde várias gerações de tunisinos satisfaziam os seus desejos de grandes porções de couscous. O Parque de Bellleville também é super conhecido pela sua vista fantástica sobre Paris.
Visto que estes dias foram muito intensos gastronomicamente, fica uma última sugestão: a rua dos restaurantes japoneses. Na rua Sainte-Anne há uma quantidade desproporcional de restaurantes japoneses a preços muito jeitosos para Paris! Nós fomos ao Naniwa-Ya e não desapontou.
Foi bom voltar a zona da cidade da Ópera, Louvre, Rivoli (onde costumava ser a minha casa) mesmo que desta vez estivesse completamente despida de turistas.
Finalmente, Rodin
Um dos meus objectivos em Paris sempre foi ir à maior quantidade possível de museus sem pagar. Até aos 25 (inclusive) quase todos os museus franceses são gratuitos para jovens de países da União Europeia.
Infelizmente, a visita ao Museu Rodin foi consecutivamente adiada e foi com um certo pesar que paguei pela primeira vez na minha vida para entrar num museu em Paris. Um lembrete trágico de que os trinta estão cada vez mais próximos…
Deixando-me de lamechices, esta casa museu (sim, porque só pelo palacete já vale apena ir) agrega as mais famosas obras de Rodin e oferece ainda um olhar mais aprofundado às diversas facetas de Rodin e da sua arte.
O jardim, a razão pela qual sempre quis ir a este museu, conta com obras monumentais como O Pensador, As Portas do Inferno ou Les Bourgeois de Calais.
Com ou sem COVID é inegável que Paris será sempre Paris <3
2 Comments
Miguel A. Gonçalves
Este conjunto de sensações novas ao redescobrir estas cidades habitualmente “inundadas de turistas” é muito gratificante! Senti o mesmo em Lisboa 🙂
Inês Amaral
Pois é! Por muito horrível que esta pandemia seja, é também uma oportunidade para redescobrir muita coisa.