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Filipinas

Será Palawan a melhor ilha do mundo? Coron (1/3)

Um, dois, três, já ganhámos outra vez! Deve ser isto que os habitantes de Palawan cantam todos os anos, cada vez que a sua ilha é eleita como a melhor do mundo. Durante duas semanas viajei por Coron, El Nido e Port Barton e não foi particularmente difícil de perceber porque é que este arquipélago é constantemente votado como o melhor. Praias idílicas, cores que somente a natureza consegue criar, corais, Nemos e Doris, pores-do-sol intensos, rum ao preço da chuva, vida fácil e barata e, como se não bastasse, sorrisos grandes e genuínos.

Sabes aqueles screensavers que o pessoal usa para que o trabalho não custe tanto? Podiam ser todos em Palawan.

Comecei por fazer a viagem Manila – Coron de ferry, que naqueles aviões a hélice não me apanham (um dia ainda hei-de engolir estas palavras). Parti à uma da tarde e cheguei às três da manhã com uma chuva torrencial a dar-me as boas vindas. A empresa que opera os ferries chama-se 2GO e faz este percurso três vezes por semana. Eu, forreta como sou, decidi optar pelo preço mais barato. Errraaadoooo!

Fui parar à Super Value Class que se traduz em centenas de camas umas ao lado das outras, num género de convés coberto e sem ar condicionado. Espertos como são, oferecem um upgrade aos turistas parvos que acham que “super value” não deve ser assim tão mau. Aproveitei logo (!), o ar condicionado valia a diferença. As 14 horas de viagem passei-as a dormir, ver séries e a ler ou escrever.

Ao atracar, lá estava a dita chuva. Consegui arranjar algumas pessoas para partilhar o tuk tuk inflacionado e lá fui, rumo ao Coron Backpackers, que fica num “bairro” onde todas as casas estão sobre estacas – já prevendo as monções e marés da zona. Ora, estacas + escuro + chuva + tábuas de madeira caquéctica = a uma perna inteira enfiada numa fenda. Pois é, foi isso que me aconteceu e eu só pensei “daqui já não saio”. Mas com jeitinho (o possível com chuva e uma mochila de 8kg às costas) lá me consegui desenroscar e ficar só com uma nódoa negra digna de um espancamento de um benfiquista em dia de derbie.

A cena do crime

Por fim, lá cheguei toda desgraçada ao hostel onde pude tomar um banho e descansar um pouco. A dona prometeu-me que quando o dia amanhecesse ia procurar pela minha Havaiana que entretanto tinha ficado perdida naquele mar de estacas.
E resultou! Com um pau mal-amanhado lá conseguiu tirar a minha Havaiana da água. Quem me conhece sabe que eu tenho um grande carinho pelas minhas chinelas!

Tour A

Como não queria desperdiçar o dia, mas também não estava para gastar muito dinheiro caso o tempo desse para o torto, escolhi fazer a Tour A, a tour mais barata. Nas ilhas de Palawan as tours estão organizadas pelas letras do alfabeto. Esta tour custa entre 800 e 1000 php, dependendo das agências. Não aconselho a marcar no hostel porque normalmente têm x por cento de comissão.

Quando me meteram numa carrinha cheia de chineses pensei “Bolas! Lá vou eu sozinha com os chineses todos!”. Mas quando cheguei ao barco lá vi uma esperança ao fundo e fui-me sentar ao lado deles. Meti conversa e descobri que eram argentinos e que não falavam inglês. No hay problema, yo hablo español! E num minuto tornaram-se na minha companhia para o dia.

Vogámos até ao sítio mais famoso de Coron: o Kayangan Lake. Claro que estava demasiado concorrido, mas por alguma razão é. A mãe natureza esmerou-se com este lago emoldurado por rochas e floresta tropical.

O lema de Palawan: “take nothing but pictures, leave nothing but footprints, keep nothing but memories, kill nothing but time”
Uso de colete obrigatório!

Durante o resto do dia gritámos em plenos pulmões “SOL, SOL, SOL”, nadámos em águas verdes e azuis e almoçámos um belo peixinho grelhado – como viria a ser hábito em todas as tours.

Assim que a tour chegou ao fim, trocámos números e combinámos ir beber uns copos nessa noite. Acabámos num bar de música latina, eu a aprender danças tradicionais argentinas e todos numa tertúlia de babel (potencial nome de um podcast) de inglês, espanhol, italiano e até um pouco de alemão!

Tour C

Andava a sonhar com um dia descansado (sim, que isto de viajar cansa!!) em que pudesse estar de papo para o ar sem fazer nenhum. Por isso, analisei as minhas opções e escolhi a Tour C – Island Escape, a promessa de uma dia só com praias desertas e de muito sol. Desta vez tive ainda mais sorte e deparei-me com um grupo de três espanhóis de Santander e uma mini francesa que foram excelentes companheiros de viagem, mesmo estando todos com uma gastroenterite – mal de que toda a gente padece quando viaja em El Nido (tinham vindo de lá).

Tivemos um dia memorável, só com praias desertas, águas de um azul que ainda não tem nome e snorkeling em paz.

À noite, já lavadinhos e descansados iniciámos uma demanda à procura de um bar de Karaoke. Não foi fácil, mas lá conseguimos, depois de quase entrarmos numa casa de prostitutas – que felizmente estava interdita ao público feminino – e de termos perguntado a todos os habitantes de Coron aonde é que nos devíamos dirigir.

Éramos, obviamente, os únicos não Filipinos naquele antro de karaoke isolado com caixas de ovo do chão ao tecto. Apesar dos Filipinos terem um grande amor a esta arte e, em geral, grandes vozes, acharam muita piada à nossa versão do Mamma Mia e fomos bastante aplaudidas.

As artistas!

Para o dia seguinte, tínhamos combinado (eu, uma espanhola e a francesa) mais dois australianos, alugar um barco com tripulação e ir aonde eles nos levassem!

Tour Do What You Want

A manhã começou com um intenso cheiro a peixe porque os australianos – “Jesus” e Shaun – queriam almoçar que nem uns reis. Fomos, por isso, ao mercado e de lá trouxeram tudo e mais alguma coisa: peixe, arroz, rum, Coca-Cola e gelo (!) não fossem eles australianos!

Combinamos com o comandante onde é que queríamos ir. Escolhemos três sítios de snorkeling e duas praias (em Coron cada sítio onde atracas tem uma pequena taxa de 100 ou 200 php) e começámos a nossa viagem. Não sei exactamente por onde passámos, mas eles levaram-nos a sítios fantásticos onde conseguimos ter uma praia só para nós ou fazer snorkeling sem mais nenhum barco à volta e ver chocos, tartarugas, nemos e corais magníficos. O meu conselho é: pergunta quais são os melhores sítios com menos turistas e confia neles.


Posso dizer que foi um dia perfeito. E como tudo o que é bom chega ao fim, nessa noite fizemos um jantar de despedida, desta vez com um brasileiro à mistura. Fomosnovamente ao karaoke, jogámos bilhar e por fim fomos dormir já que no dia seguinte eu e os australianos tínhamos um barco para El Nido para apanhar.

É fácil escolher Coron como um dos sítios que mais gostei durante toda a minha viagem. Parece que conheci todas as pessoas certas, simpatizei imenso com aquela vila que só tem uma estrada e meia dúzia de lojas e restaurante e, por agora, o turismo massificado ainda não chegou a este cantinho.

Dicas rápidas:

Alojamento: Fiquei no Coron Backpackers. Só tem quartos privados, são cerca de 8€ por noite. Não é luxuoso, mas tem tudo o que é preciso: uma cama, ventoinha e duches. Por vezes também inclui uma barata como extra, mas a senhora da recepção trata dela se pedires 😉

Transporte: Na ilha anda-se de tuk tuk ou a pé. Eu só apanhei tuk tuks para ir e vir do porto, mas se o teu hostel/hotel for mais longe do centro talvez possas precisar. Negoceia sempre, claro!
Quanto ao transporte para outras ilhas, podes marcar nas dezenas de agências turísticas que existem por ali. Algumas parecem pouco legítimas, mas nunca tive problemas.

Tours: Eu gostei muito da empresa com que fiz a minha segunda tour. Fica do lado do café Kong a talvez meio minuto/um minuto a pé do mesmo, na direcção do porto. Se o tempo estivesse mais certo tinha feito a Tour B (+-1100 php) e a C (+-1500 php), mas assim também não fiquei mal servida e ficou-me mais barato.
O nosso capitão da última tour chama-se Clar e o número dele é o +63 912 025 8596. Ficou-nos a cerca de 17€ cada.

Alimentação: Vais acabar sempre por comer fora, porque supermercados não existem muitos. Aconselho o Café Kong para pequeno almoço, as tours incluem almoço e o Hangover Bar para beber um copo.

Dinheiro: Existe um ATM na ilha, na estrada principal.

Clima: Apesar de Junho ser o primeiro mês das chuvas e tufões, quase não apanhei nenhum dia de chuva e as temperaturas tiveram óptimas em geral.

Abril– início de Junho: Melhor altura para viajar no mar.
Jul–Setembro: Altura de monções e preços baixos.
Dez–Fevereiro: Mais seco e fresco. Ventos fortes podem comprometer os horários dos barcos.

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!