Se nunca viajaste até ao Japão, é muito provável que nunca tenhas ouvido falar destas duas ilhas. Eu não fazia ideia que existiam até perguntar a um amigo meu que conheci durante a minha experiência de Workaway onde é que devia ir durante o tempo que me restava no Japão.
Quando comecei a pesquisar sobre elas decidi imediatamente que tinham que fazer parte do meu itinerário. Há poucos anos, Naoshima e Teshima não passavam de duas pequenas ilhas piscatórias no meio do mar Seto. Foi em 1985 que se reuniu a visão de um homem, Tetsuhiko Fukutake – um bilionário Japonês – e a vontade de outro, Chikatsugu Miyake – presidente de Naoshima na altura – e a obra nasceu.
Teshima
Decidi começar pela mais pequena das duas ilhas. Teshima tem dois pontos turísticos principais: a Yokoo House e o Teshima Art Museum.
Assim que desembarquei do pequeno ferry que me levou até à ilha, percebi que estava num lugar muito pouco conhecido. Já devia ter percebido pela dimensão do barco que transportava cerca de 15 pessoas para uma ilha onde só habitam 1000.
Depois de ver o preço do aluguer de bicicletas (18€) decidi que o melhor mesmo era fazer tudo a pé! Comecei por explorar o bairro de pequenas casas que circundavam a Yokoo House e às 10 horas em ponto estava preparada para a visita!
Toda a casa, bem como todas as obras de arte destas ilhas, é uma experiência sensorial. Envolve-te desde o primeiro minuto e não te larga, nem depois de lá saíres. Obriga-te a olhar, a sentir, a pensar e a participar.
Consegui tirar algumas fotos à socapa, mas até percebo o porquê da proibição das mesmas. Toda a gente deve ser surpreendida, tal como eu fui, e estar focada em absorver tudo o que as obras têm para oferecer.
Restava-me então andar até ao Teshima Art Museum. Apesar do calor, a caminhada lá se fez enquanto ia ouvindo podcasts do Maluco Beleza e passando por arrozais e estradas onde não se avistava vivalma.
À medida que te vais aproximando parece que estás a entrar num filme de ficção científica. A arquitectura minimalista, branca e inóspita sobressai no meio daquela paisagem natural. Depois de chorares os 12€ do bilhete e de te darem todas as instruções sobre como te deves (ou não) comportar, chegas à entrada da dita nave espacial. A partir daquele ponto tens que te descalçar, não podes falar e não podes fotografar.
E é então que entras numa dimensão alternativa. Não é um sítio particularmente fácil de descrever, mas acho que a palavra que melhor o faz é: paz. Sons, só os da natureza. Luz, só a natural. Movimento, só as gotas de água que se movem sozinhas, como que por magia, naquele espaço. E tu, no meio daquilo tudo olhas, admiras, deitas-te no chão e contemplas “que raio de sítio é este”. Passado algum tempo habituas-te e até passas pelas brasas (não sei de nada…).
O museu vai mudando consoante o ambiente e tu vais mudando com ele. Podes ficar 5 minutos ou 5 horas. Este é um lugar verdadeiramente especial e uma obra-prima da arquitectura.
Ainda meio zonza fui dar uma vista de olhos por outras obras de arte que ficavam ali perto e passear-me pelos bairros antigos. Eventualmente iniciei a minha caminhada de regresso ao porto para apanhar o ferry de volta a Takamatsu.
Naoshima
As diferenças entre Naoshima e Teshima começam no tamanho do barco. Em vez de um pequeno barco com capacidade para 20/30 pessoas, agora é um ferry luxuoso com capacidade para 500.
Mais uma vez decidi andar, não só para poupar dinheiro mas também porque queria ter a oportunidade de ver a ilha e as suas paisagens. De qualquer forma Naoshima tem um bom sistema de transportes e é muito mais fácil de chegar aos museus.
O meu destino era o Chichu Art Museum, o mais famoso da ilha e considerado um dos melhores museus do mundo. Mais uma facadinha no orçamento (16€), mais uma lição sobre regras de conduta e entro no museu.
Não tardo muito a perceber que sim, para mim este é o melhor museu do mundo (e eu já passei pelo Louvre, D’Orsay, MET, MoMA…). Fui imediatamente surpreendida na primeira sala: três pinturas de Monet, o meu pintor preferido, numa sala concebida especialmente para as receber. Foi fácil perder a noção do tempo.
O museu não tem mais do que 5/6 obras, mas todas surpreendentes, tal como próprio museu. Para além do Monet, o Walter de Maria foi o mais impressionante.
Naoshima tem muito mais para ver. O Benesse House Museum, I Love Yu, Art House Project, a abóbora de Yayoi Kusama’s e outras obras mais pequenas espalhadas pela ilha. Infelizmente não tive dinheiro nem tempo para ver tudo, mas é um sítio onde adorava voltar.
Conclusão: vai, vai,vai!! Se fores ao Japão estas ilhas são completamente obrigatórias. Um lugar único e muito especial que não vais esquecer.
Dicas rápidas:
Transporte: O melhor ponto de contacto é Okayama ou Takamatsu. Pessoalmente recomendo Takamatsu, que é muito mais giro do que Okayama. De Takamatsu tens barcos e ferries todos os dias para as ilhas. Tens aqui os horários e preços.
Alojamento e comida: O alojamento nas ilhas é escasso e caro, por isso aconselho-te a ficar em Takamatsu e visitar estas ilhas como “day trips”. Fiquei num hostel muito bom chamado Traditional Apartment. Também recomendo levares comida, principalmente para Teshima.
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