Food for Thought

“Não quero ter filhos” – disse ela sem pensar!

Passo a explicar:

Desde que me lembro que digo que não quero ter filhos, o que, apesar de ser o que eu penso e sinto, está longe de ser uma coisa boa para se afirmar. As mulheres adquiriram o direito de votar, de ter lugares no parlamento, de terem cargos nos quadros superiores. De se divorciarem, de saírem do país sem a autorização de um homem e a diferença de salários já foi maior. Mas ainda não adquiriram o direito de dizerem que não querem ter filhos.

Quem acha que sim, claramente nunca se deparou com a quantidade de argumentos entre o hilariante e deprimente que a sociedade utiliza para descredibilizar esta (não) vontade. Como me interesso por este assunto – para além do que já ouvi e ainda vou ouvir – também leio os comentários nas redes sociais e meios de comunicação cada vez que sai um artigo sobre este assunto. E posso dizer que só não choro, porque a maior parte dos argumentos tem uma lógica tão miserável que mais vale rir.

Como pessoa que não quer ter filhos, fica aqui o meu ponto de vista sobre os “argumentos” utilizados para culpabilizar as mulheres com a mesma opinião/decisão que a minha.

1) “ah, és muito nova… Vais ver que ainda vais mudar” (mais frequente).

Oiço esta desde os meus 13/14 e cá me mantenho igual. Não é por 10 anos a ouvir a mesma coisa que mudei. Para além disso, até podem ter razão quando dizem que ainda sou nova e eventualmente posso mudar de opinião (bate na madeira) mas eu também não costumo dizer às pessoas que querem dizem que querem ter filhos “ah, parvoíce! És tão nova, ainda vais mudar de opinião!”. Não é simpático pois não? É só parvo acharmos que temos mais razão quanto às vontades dos outros do que eles próprios.

  • “Sabes… eu tenho uma amiga que dizia isso e agora tem 4!”

Esta é uma derivação da primeira porque tenta provar o ponto de “tu não sabes o que dizes e vais mudar de ideias”. Mas a ideia é: eu não sou a tua amiga e portanto o que aconteceu com a vida dela não tem que acontecer com a minha.

2) “Isso é tão egoísta! “

Esta é boa! Normalmente as pessoas dizem que não querer ter um filho é egoísta porque só estás a pensar em ti própria. Não sei bem em mais quem é que havia de estar a pensar, já que a vida é minha, mas pronto. Quanto ao argumento “tens que contribuir para a natalidade”, este também é de grande raciocínio quando o mundo tem 7 mil milhões de pessoas e não tem recursos para as sustentar, o futuro parece tudo menos risonho para as próximas gerações. Ups, queres ver que isto de não ter filhos até é altruísta? 😉

3) “E quem é que vai cuidar de ti quando fores mais velha”.

Entretanto acho que esta coisa do egoísmo já deu uma volta de 180 graus. A mim, egoísmo parece-me por uma criança neste mundo só por medo de vir a ficar sozinha quando for mais velha. Tal como gostaria de nunca ter ninguém a depender de mim, também odiaria obrigar uma pessoa de quem gostasse a cuidar de mim.

4) “Ter um filho é a melhor coisa do mundo”.

Acredito piamente que para algumas pessoas isto seja verdade e que existem mulheres e homens que nunca se sentiriam completos sem ter filhos. Mas isso não tem que ser a regra! É como eu tentar convencer toda gente que viajar é a melhor coisa do mundo e que todos deviam fazê-lo para o resto da vida. Lá porque é o que eu sinto e o que eu quero, não quer dizer que toda a gente seja igual (Felizmente!!!)

5) “Coitados dos teus pais”

Os meus pais são uns bacanos e já aceitaram que se quiserem ter netinhos vão ter que os adoptar. Para além disso, têm consciência de que a vida é minha e querem é que eu seja feliz, por isso pouco lhes interessa se me caso ou não ou se tenho filhos ou não. Só ficam mesmo preocupados quando vou viajar durante muito tempo 😀

6) “As mulheres nasceram para ser mães”

Continua-se a esperar que as mulheres nalguma fase das suas vidas oiçam o tic-tac que é o seu relógio biológico e que fiquem loucas por conceber um rebento. Mas acho que é um bocadinho redutor pensar que a maior conquista na vida de alguém é procriar – uma coisa que qualquer animal racional ou irracional consegue fazer. No entanto, criar um ser humano decente e com princípios, isso já começa a ser uma obra-prima.

Mas a resposta ao “porquê???” de não querer ser básica é simples: 1 – não gosto de crianças (oh meu deus matem-me já); 2 – não consigo sequer conceber a ideia de ter alguém dependente de mim por mais de 20 anos; 3 – o que eu nasci para fazer é viajar e inventar cenas (a.k.a publicidade).

Por isso, a minha questão é: Porquê criar uma pressão gigante sobre as mulheres para terem filhos quando isso é um assunto que respeita a cada uma e a mais ninguém. Alguém acha mesmo que pôr uma criança neste mundo só porque biologicamente temos essa opção é um motivo lógico?

A resposta não podia ser mais simples: quem quer, quer. Quem não quer não quer 😉

kids2

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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